Do desânimo à superação: a nova chance de Alexandre

 

 

Texto e foto: Marcos Gabriel

Deixar o passado para trás e começar uma nova história, longe da família e de entes queridos, nem sempre é uma tarefa fácil. O medo, a tristeza e a insegurança foram dificuldades que cruzaram o caminho de Alexandre Salvador, 61 anos, que vive há dez meses no Centro de Acolhida Estação Vivência, localizado no bairro Pari, na Grande São Paulo.

A parte triste da história de Alexandre começou há muito tempo, quando ele tinha apenas 12 anos de idade, e vivia com os pais e os dois irmãos na zona norte de São Paulo. "A minha família sempre foi desunida. Minha mãe, em especial, esquecia que tinha marido e filhos e, então, resolveu nos abandonar aos poucos’’, contou com emoção.

Nesse tempo, enquanto o casamento de seus pais desmoronava dia após dia, Alexandre tentava encontrar alguma solução. E conseguiu. ‘’Lá pelos meus 19 anos, eu estava sem estrutura para ver aquele pesadelo acontecendo dentro de casa, e me vi na obrigação de conseguir um emprego para me sustentar’’, disse.

‘’Como naquela época não existia computador, celular, telefone ou nada muito tecnológico como nos dias de hoje, resolvi estudar e me aprofundar na máquina de escrever, que era o que estava em alta em todo canto do mundo, e isso me deu muito gás e determinação’’, explicou.

Com toda essa força de vontade, Alexandre trabalhou em alguns bancos na capital paulista. ‘’Como eu tinha aprendido a mexer na máquina de escrever, fui contratado em alguns bancos, como o antigo HSBC, por exemplo, e isso me dava vontade de continuar’’, afirmou.

Trabalhando, e ainda vivendo com seus pais, o rapaz foi transferido para uma agência em Campinas, que o fazia viajar toda semana a trabalho. ‘’Mesmo com tudo dando certo, vi a felicidade ir embora. Minha mãe nos abandonou de vez e, sem querer, perdi o emprego e tudo o que estava conquistando’’, contou com frustração.

Sem rumo, Alexandre passou a viver nas ruas. A família, por sua vez, se desfez totalmente. Seu pai desapareceu, sua mãe não deu notícias, e cada um dos seus irmãos seguiu caminhos distintos. Mesmo com uma tia vivendo na cidade, ele não teve coragem de pedir ajuda.

‘’Fui para Ubatuba, onde fiquei nove anos. Lá, consegui um emprego péssimo, mas era melhor do que não ter nada. Fui juntando o pouco que eu recebia para tentar ver se eu conseguia recuperar a minha vida de antes’’, disse. Sem medo, retornou à cidade de São Paulo, onde viu uma luz no fim do túnel.

Com tamanha força de vontade para recomeçar, o talento de Alexandre foi reconhecido. ‘’Sem emprego, já estava desanimado da vida, foi quando a equipe da assistência social me encontrou pelas ruas de São Paulo, e logo fui para meu primeiro Centro de Acolhida, o Lygia Jardim’’, contou.

Depois de viver mais de cinco anos no Lygia Jardim, Alexandre recebeu a oportunidade de ir para o Estação Vivência. ‘’Recebi uma chance de viver lá, além de trabalhar, já que todos sabiam dos meus talentos’’, contou com alegria.
Durante o tempo de altos e baixos, Alexandre aprendeu muitas coisas. ‘’Já fui eletricista, pintor, coordenador e bancário’’. Hoje, ele trabalha no Largo do Pari, fazendo a limpeza geral do local.

A história de Alexandre, antes regada de tristeza e desânimo, deu espaço à força de vontade para construir um novo capítulo. ‘’Graças a Deus e ao pessoal da prefeitura, hoje trabalho e tenho um convívio agradável. Agradeço muito ao serviço por nunca me deixar faltar nada’’.

Mesmo com as lembranças ruins do passado, ele nunca pensa em desistir, e sempre será grato às oportunidades que a vida entregou em suas mãos. Os dias escuros, mesclados à dificuldade, hoje são somente lembranças que Alexandre conta para dar ainda mais vontade ao que realmente almeja para o resto de sua vida: ser feliz.