“Retalhos que transformam” é a oficina que transforma tecido em tapete, autoestima e renda na Lapa

Iniciativa está sendo desenvolvida na unidade do Atende no bairro da Zona Oeste, e reúne pessoas que usam substâncias psicoativas em torno de novos projetos

Mão de um dos participantes realizando recortes no tecido para a montagem de sua Boneca Africana.

A boneca africana foi outra ideia trazida para a oficina. Sua montagem é completamente artesanal e feita de tecidos retalhados.

 

Texto e Fotos: Ícaro Domingues e Júlia Alves

Retalhos de tecido podem não ser valorizados por muita gente. Mas um projeto desenvolvido na Unidade de Atendimento Diário Emergencial (Atende) da SMADS que fica na Lapa, na Zona Oeste, prova que retalhos podem ajudar a resgatar e transformar vidas.

No projeto “Retalhos que Transformam”, uma Oficina de Artesanato que funciona dentro do Atende, serviço especializado no tratamento de pessoas que usam substâncias psicoativas, os alunos estão descobrindo não apenas o gosto pela confecção de tapetes, mas, principalmente, um novo sentimento: o de esperança em relação às novas oportunidades que podem sim surgir e apontar recomeços na vida.

Na quarta-feira (8), os integrantes do projeto participaram da terceira aula da oficina, liderada pela empreendedora Simone Cavini, de 47 anos.

Foi já durante a pandemia de Covid-19 que Simone conta ter se sentido mal ao passear pelas ruas da cidade e constatar que não conseguia ajudar todas as pessoas que via estarem em dificuldades. Por conta disso, ela passou a buscar quaisquer materiais recicláveis que pudessem ser reutilizados.

Pelas andanças na capital paulista Simone recolhe retalhos de tecidos, caixas de madeira e todos os produtos que possam ser úteis. Dentro do Atende, ela comanda a Oficina de Artesanato, em que é possível produzir tapetes com auxílio de um tear totalmente feito de produtos recicláveis, além de bonecas africanas, tudo com participação dos frequentadores do local. A cada oficina, as orientadoras trazem ideias novas de peças para serem confeccionadas pelos participantes do projeto que mostram entusiasmo com a iniciativa.

Um participante, que preferiu não ser identificado, relatou sua experiência no Atende: “Estou aqui há um mês, já participei de duas oficinas. Sempre procuro atividades que oferecem aqui no espaço e achei a de tapetes bem interessante; faço coisas novas todos os dias.”

O objetivo final do projeto é contribuir para que os participantes consigam gerar renda com as peças feitas por eles mesmos, além de fazer com que a história do artista seja contada entre as linhas dos tecidos.

Neste momento, porém, o foco não está voltado para a geração de renda, mas, sim, para a criatividade, a troca de carinho e a expressão do amor. “Aqui temos algo muito forte, em que ocorre um verdadeiro encontro de almas. Pela costura e pelo artesanato podemos transformar pessoas que parecem invisíveis aos olhos do mundo, em visíveis, recuperando assim sua autoestima”, contou Cavini, muito emocionada.

 

Caixa de madeira com pregos na superfície, tecidos em fitas entrelaçados nos pregos e entre os próprios tecidos dando forma a um tapete.

O tear utilizado para a confecção dos tapetes foi feito com caixas de madeira reutilizadas e pregos.

 

As orientadoras da oficina, Patrícia Rodrigues e Simone Cavini, respectivamente, exibem as bonecas africanas e tapetes produzidos durante a aula.

As orientadoras da oficina, Patrícia Rodrigues e Simone Cavini, respectivamente, exibem as artes produzidas durante a aula.