19 de agosto: Dia de Luta da População em Situação de Rua

Oportunidade para refletir e discutir políticas públicas para a população mais vulnerável

Imagem de uma pessoa de calça jeans e moletom sentado dentro de uma cabana azul e duas pessoas utilizando o colete da assistência social na sua frente, uma delas esta agachada conversando com a pessoa dentro da cabana e a outra está em pé. Eles estão na rua, em frente uma prédio com a parede branca e a porta e janelas azuis. Abaixo está escrito "19 de agosto: Dia Nacional de Luta da População em Situação de Rua" em preto. Na parte superior direita possui o logo da SMADS (Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social). 

Texto: Roberto Vieira
Arte: Livia Vollet
Fotos: Acervo

 

A cidade de São Paulo, com todo o gigantismo de uma metrópole com mais de 12 milhões de habitantes, carrega consigo desafios de gestão proporcionais ao seu tamanho. Por todos os cantos e para todos os lados, qualquer um de nós vai encontrar aqui situações distintas, sensíveis e contraditórias. Por outro lado, aqui também se faz presente enredos de lutas e conquistas históricas que ganham força e são replicadas Brasil a fora. O ‘Dia Nacional de Luta da Pessoa em Situação de Rua’, lembrado todo dia 19 de agosto, é mais um símbolo disso.

A  Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS), exerce um papel importante dentro desse cenário na cidade, atuando na oferta de serviços, acolhimentos e, principalmente, auxiliando na retomada da autonomia. O paulistano Carlos Rubens de Moraes, 41, acolhido no Centro de Acolhida Portal do Futuro, na zona norte, desde dezembro de 2021, conta que luta todos os dias para reescrever sua história e retomar aquilo que, lá atrás, se desenhava diferente do que é hoje.

Moraes é um dos beneficiados pelo Programa Bolsa Trabalho e aguarda ansiosamente para começar a ter sua renda. “Consegui um emprego através do Programa Bolsa Trabalho, estou fazendo cursos preparatórios para iniciar a nova função. Em breve quero retomar as coisas, conseguir uma casa e seguir a minha vida”, disse.

Foto: Do lado direito um computador sobre uma mesa azul. Do lado esquesto um homem de moletom verde.

Carlos Rubens de Moraes acolhido no Portal do Futuro há nove meses,
participa das capacitações do Programa Bolsa Trabalho

Já na Praça da Sé, no centro histórico da cidade, são muitas as histórias de pessoas que estão em situação de rua, cada uma com a sua especificidade. Histórias como a do sr. José Carlos, 46, que não quer ser acolhido e passa os dias por ali, há 26 anos. Com tanto tempo vivendo nas ruas, ele entende que a data de hoje é muito importante e fundamental para dar maior visibilidade aqueles que utilizam as ruas da cidade como sobrevivência.

“O dia de hoje me faz sentir enxergado, deixo de ser invisível, porque quando você está na rua, você deixa de existir. As pessoas quando me veem atravessam a rua, o preconceito é muito grande contra a gente e saber que ainda tem gente que se importa e que luta quando não conseguimos é muto importante”, contou Carlos, que complementou falando sobre sua rotina na Praça. “Eu estou na rua há muito tempo, aprendi muita coisa aqui da maneira mais difícil, gosto muito de ler e de estudar, tenho minha família que mora em casa e que eu ajudo todo mês com o dinheiro de alguns bicos que faço”, finalizou.

Felipe Aparecido, 38, também vive na Praça da Sé há muitos anos e revela que hoje as possibilidades que lhe chegam tornam a vida nas ruas menos difícil do que antigamente. “Não sei dizer como era a minha vida antes de estar na rua, eu já estou aqui há 32 anos, já vi e já vivi de tudo nessa praça. Antes era mais difícil, mas agora a assistência que a gente recebe todos os dias facilita, faz com que a gente se sinta visível sabe? Sou grato por todos que tentam me ajudar e me tirar daqui, mas eu sou andarilho”, pontuou.

Famosa por ser uma cidade acolhedora, São Paulo também abriu os braços para José Cláudio, 32, que deixou o Pernambuco em busca de uma nova vida na maior cidade do Brasil, entretanto, o vício em drogas foi aumentando e acabou por levá-lo às ruas. Assim, o caminho mudou o curso e José Carlos tornou-se mais uma das 31 mil pessoas que vivem em situação de rua na cidade de São Paulo, de acordo com os dados do último Censo, divulgado pela Prefeitura no início desse ano

“Eu tenho tudo. Tenho casa e família em Pernambuco, mas estou na rua desde que cheguei em São Paulo, há cinco anos, por causa das drogas. Já tentei acolhimento em diversos centros, e sempre que preciso, nas noites mais frias eu vou. Mas eu gosto de ficar na rua, tenho vergonha de voltar para casa”, revelou.

Sobre o Dia Nacional de Luta da Pessoas em Situação de Rua

O Dia Nacional da luta da população em situação de rua é celebrado no dia 19 de agosto em memória das vítimas do Massacre da Sé, que aconteceu em 2004, quando sete pessoas foram assassinadas e oito ficaram gravemente feridas enquanto dormiam na Praça da Sé, na região central. A data marca a reivindicação de direitos e cidadania das pessoas que estão em situação de rua.

Foto: dois homens abraçados segurando cada um uma mamitex. Um deles está com o braço levantada cobrindo parte do rosto


Censo

Este ano, a SMADS realizou, de forma antecipada, o Censo da população em situação de rua e o levantamento mostrou que mais de 31 mil pessoas vivem hoje nesta condição. Seguindo o objetivo de utilizar dados e trabalhar com um panorama mais fiel à realidade, a Secretaria encomendou um Censo específico para crianças e adolescentes em condição de rua, cujo resultado, divulgado no final de julho, apontou 3.759 estão vivendo nesta condição ou expostos a algum tipo de risco social.

O cenário econômico e a pandemia de Covid-19 são fatores que contribuíram para o agravamento da situação nos últimos anos. A Prefeitura de São Paulo, por meio do programa de metas, estabeleceu a criação do ‘Programa Reencontro’, que prevê uma série de ações, como o reordenamento da redesocioassistencial com espaços de acolhimento que não excedam 200 vagas, atendimento humanizado e moradias transitórias com ações que estimulam e desenvolvam a autonomia das famílias.

Para as crianças e adolescentes em situação de rua, outras medidas estão em curso, dentre elas estão o programa Cidade Protetora, que envolve a iniciativa privada nas ações de combate ao trabalho infantil, serviços de abordagem social específica para este público, com linguagem lúdica e escuta qualificada, além da abertura de novos equipamentos como Núcleos de Convivência e Centros para Crianças e Adolescentes.