Mês do idoso: usuário de CDI contará em livro sua trajetória dentro e fora do serviço

Reflexões sobre a importância de estudar e de não desistir dos sonhos são algumas lições exemplificadas no livro de Francisco de Assis Leite

Homem idoso sentado em uma cadeira de rodas com um livro aberto sobre o colo.

Texto: Marianne Seixas
Imagens: Livia Vollet

 

Um homem apaixonado pela família e com uma vida inteira incansavelmente dedicada a buscar conhecimento e estabelecer novas amizades por onde passa. Esse é o resumo mais fiel sobre Francisco de Assis Leite, 74 anos, que convive há um ano e seis meses no CDI (Centro Dia do Idoso) – Kimani Marugi, na zona leste, e usa parte do seu tempo para registrar crônicas sobre sua própria vida. O resultado desse copilado será conferido em um livro que já é muito aguardado pelos seus colegas conviventes do serviço.

Francisco veio do nordeste do país para São Paulo em 1961, saindo da pequena Barra, interior do Estado da Bahia, com objetivo de concretizar os estudos, trabalhar e construir uma vida ao lado de sua esposa, que o acompanhou. Leite trabalhou por mais de uma década como revisor no jornal Folha de São Paulo, exatamente durante o período da ditadura militar. O trabalho em um veículo de grande circulação ajudou a fomentar nele a vontade de contar histórias, registrá-las e saborear em palavras tudo o que a vida lhe foi capaz de proporcionar.

“Depois que eu li o livro 'Caminhando com as próprias pernas' de Pauê sobre a história do jovem Paulo Eduardo Chieffi Aagaard, que em 2000 sofreu um acidente e perdeu os movimentos das duas pernas. Isso mudou a vida dele e isso me fez querer contar também a minha história, contar sobre a minha vida, a minha família e meus estudos. Porque a minha condição hoje não me atrapalha em nada, quero reforçar a ideia de que todos podem caminhar com as próprias pernas”, relatou Leite, com olhar que esbanjava entusiasmo.

Enfrentando muitas dificuldades, mas com força de vontade sempre revigorada, Francisco se formou em Química pelo Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) e logo após abriu um salão de cabelereiro onde atuou por 30 anos, até a sua aposentadoria. Com uma dura rotina de cuidar de cinco filhos, trabalhar e estudar, Francisco desenvolveu artrose nos dois joelhos e, por isso, teve que se aposentar, mas nunca deixou de pregar a todos a importância de estudar e trabalhar para garantir uma vida boa. “Trabalhar e estudar é a base para uma vida estável”, diz.


A condição dos seus joelhos alterou a rotina de Francisco e o fez passar a frequentar com assiduidade ambientes que antes ele não via sempre: hospitais, clínicas, etc. Longos períodos de recuperação e algumas cirurgias depois, Francisco conheceu os trabalhos oferecidos pelo CDI e sentiu que estar em um lugar onde se tem atenção, cuidados e onde se cria novos laços afetivos era a cereja que faltava à sua história.

Homem idoso sentado em uma cadeira de rodas em frente a uma mesa branca onde esta apoiado um caderno.

“Não existe lugar onde você é mais bem cuidado do que esse aqui (CDI). Todo idoso merece esse tipo de tratamento, é fundamental”, disse.

Usuário do serviço há um ano e quatro meses, Francisco encontrou no CDI a oportunidade de criar algo diferente. Com muitos incentivos, sobretudo de Anatilde Alves, profissional de arteterapia do serviço, que o considera um grande contador de histórias, Leite decidiu então escrever um livro sobre a sua trajetória.

A obra está em fase inicial e será escrito e ilustrado pelo senhor Leite, o intuito é inspirar outras pessoas a seguirem os seus sonhos e não desistirem de lutar por eles diariamente “É preciso ter convicção para saber o que você quer e ir atrás”, finalizou.

Independente das dificuldades enfrentadas pelo caminho, ter tido a família ao seu lado e, nesse momento da vida, ter encontrado no serviço uma nova chance para continuar, faz com que o envelhecimento do atendido seja cada dia mais saudável e alegre. Respeitar o idoso e olhar o mundo com mais simpatia, humildade e simplicidade é a chave”, finalizou o aposentado.