Famílias afegãs preparam prato típico para minimizar a saudade do país

No início do mês, o CAE Ebenezer disponibilizou a cozinha do centro para a realização de comida tipica do Afeganistão, a pedido dos imigrantes

Texto: Júlia Zuin
Foto: Acervo

 

Duas mulheres afegãs estão rente ao fogão preparando a comida. Estão misturando diferentes ingredientes em uma grande panela. Usam lenços, para cobrir seus cabelos.

 

Com o objetivo de tornar a rotina dos acolhidos um pouco mais próxima dos costumes do seu país origem, o Afeganistão, o Centro de Acolhida Especial (CAE) Famílias Ebenezer, na zona leste, propôs às mulheres que preparassem um cardápio típico afegão na semana passada e o prato “Qhabili”, uma refeição famosa e comum no dia a dia deste povo, foi o escolhido.

A receita escolhida envolve em sua base uma proteína, no caso, frango, especiarias como a canela, açúcar, pimenta e arroz. De acordo com Razma, uma das atendidas do serviço, o grão é o elemento que mais difere quando cozinham a iguaria no Afeganistão. “No dia anterior fomos ao mercado e compramos o que precisávamos para o evento. Mesmo que o Qualibi tenha um gosto diferente do que estou acostumada, anseio para experimentá-lo pois adoro essa comida”, relatou.

O choque cultural é uma das barreiras enfrentadas diariamente por quem vive distante de seu país. Do mesmo modo que “saudade” é inexistente na língua persa, em contraponto, tantas outras faladas pelos afegãos não existem no português. Mas o sentimento é universal e um dos principais produtos de um povo, qualquer que seja, é a culinária. Desde que foram acolhidos, os refugiados do Oriente Médio têm se alimentado de comidas brasileiras, como o típico arroz e feijão.

 

Os acolhidos se servem diante de recipientes que contém a comida pronta. Seus pratos estão coloridos, devido a distinção de ingredientes com diferentes cores que o preenchem.

 

Zainab, 20 anos, uma das imigrantes acolhidas, foi categórica ao afirmar que ficar distante da comida de seu país na maior parte tempo. “Somos muito bem tratados no centro de acolhimento e adoro a culinária brasileira, mas sinto falta de iguarias típicas de onde nasci”, disse. Já Razma, que fugiu da guerra com o seu marido e está grávida, diz que aprecia e sente falta das comidas de seu país, mas classifica essa questão como secundária.


De acordo com Gabriel de Souza Della Negra, psicólogo que atende no espaço, é inegável que as culturas conflitem, todavia, os traços de empatia sobressaem as dificuldades. “Os funcionários do CAE, do mesmo modo que ensinam sobre a sociedade brasileira e seus costumes, são presenteados com as particularidades de outra nação. O aprendizado de ambas as partes é constante devido ao intercâmbio cultural - uma das características do povo brasileiro, população representada por várias nacionalidades”, contou.

Obaidullah Hassan Zai, um dos jovens afegãos acolhidos no CAE Ebenezer, fala persa e português e conquistou o emprego de colaborador socioeducativo no equipamento. Seu período de estadia no país completou dois meses - o imigrante saiu do Afeganistão assim que obteve seu passaporte humanitário – e seu papel nessa integração mencionada por Della Negra torna-se essencial.