Emoções tomam conta de Núcleo de Convivência em Brasil x Suíça

Espaço fez parte da programação especial da SMADS para a Copa do Mundo

Texto: Guilherme Guidetti
Imagens: Guilherme Guidetti

 

Algumas pessoas se sentam em cadeiras brancas, e à frente, um homem vestibndo uma camisa amarela da seleção fala no microfone. Um homem vestindo camiseta azul fotografa com o celular em mãos. É possível ver, ao fundo, um telão e três caixas autofalantes. No teto, se encontra penduradas fitas verde e amarelas e bandeiras de diversos países.

 

Que o futebol tem o potencial de unir as pessoas e diminuir as diferenças não é novidade. A linguagem desse esporte é universal e, nesta segunda-feira (28), o Núcleo de Convivência ‘Boracéia’ foi mais um exemplo desse sentimento de união.

Localizado à Barra Funda, zona central da cidade de São Paulo, o serviço da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS), que atende diariamente até 400 pessoas em situação de rua, recebeu um telão de 4x2 metros para que todos pudessem assistir a partida entre Brasil e Suíça, válida pela segunda rodada da Copa do Mundo.

O espaço estava todo decorado com o verde e amarelo da seleção. Eram bandeiras, fitas, desenhos e até informativos sobre a Copa. Os decoradores são os próprios atendidos do núcleo que, junto aos orientadores socioeducativos, enfeitam as paredes, vidros e até mesmo o ar do serviço. “A gente faz essas e outras atividades semanalmente. Isso ajuda no processo de ressocialização do indivíduo”, conta Rodrigo Santos, 57, que trabalha há 12 anos no serviço e conhece os frequentadores do local nominalmente.

Decoração verde e amarela no Centro de Acolhida Barra Funda

Decoração no Núcleo de Convivência ‘Boracéia’ é de autoria dos próprios frequentadores

Este era mais um diferencial da solenidade no núcleo de convivência: a sensação de pertencimento. Apesar de ser uma área de livre circulação para qualquer pessoa que entre por ali, as pessoas em situação de rua que usufruem do serviço voltam e convivem ali todos os dias. O ‘Boracéia’ é parte da rotina de centenas de adultos da região da Barra Funda. Os espectadores sentiam-se em casa.

O equipamento faz parte de um complexo que abriga outros quatro serviços da Prefeitura de São Paulo: os Centros de Acolhida 'Barra Funda I', 'Barra Funda II', 'Nova Vida' e 'Boracéia'. Há ainda o Centro de Acolhida Especial (CAE) Convalescença ‘Boracéia’. Nesta tarde, mais do que nunca, os atendidos destes equipamentos puderam compartilhar os momentos decisivos do segundo jogo do Brasil na Copa do Mundo.

Homens sentados assistindo ao jogo do Brasil

Frequentadores do Núcleo de Convivência ‘Boracéia’ assistem atentos à partida entre Brasil x Suíça

 

As emoções do duelo

Com todo o capricho na decoração e o telão instalado, o duelo entre as duas seleções ditava as reações no ‘Boracéia’. O brilho nos olhos com a entrada das equipes em campo, a mão no peito na hora do hino nacional e a tensão que predominou na primeira etapa foram os destaques iniciais.

Daniel Hugo, acolhido nos serviços da rede socioassistencial da Prefeitura, não tirava os olhos da tela e se expressava somente nos lances mais agudos. “Esse primeiro tempo está complicado, esperava mais”, confessou, sugerindo ainda que faltava entrosamento no ataque brasileiro.

Entretanto, se a etapa inicial do jogo foi aquém das suas expectativas, a presença do telão no núcleo de convivência superou qualquer plano que Daniel tivesse feito. "Eu estou achando divertido. Não esperava um telão desse para assistir", comentou já no intervalo da partida. Daniel conseguiria assistir a partida no Centro de Acolhida Barra Funda II, onde tem vaga fixa e que faz parte do complexo, mas preferiu o ambiente criado no núcleo de convivência. Mal sabia ele que o melhor estava guardado para o segundo tempo.

Quando as seleções voltaram do intervalo, o pátio do núcleo de convivência já estava lotado novamente. A equipe do serviço, gerido pela OSC Apoio - Associação de Auxílio Mútuo da Região Leste, distribuiu pipoca para os presentes. Alguns espectadores tentavam espantar a ansiedade com gritos de “Brasil”. Outros levavam a mão à cabeça a cada lance perdido. Quando o gol de Vinícius Júnior foi anulado, não faltou reclamação e lamentação também.

Homem de camisa regata e boné sentado em frente ao telão assistindo o jogo.

Daniel Hugo, acolhido da rede socioassistencial, com a atenção totalmente voltada à partida

Mas quis o destino que a vitória viesse nos instantes finais da partida. A seleção brasileira fez o único gol do duelo em um belo chute de Casemiro. Festa generalizada. Gritos, abraços, correria, até cadeira levantada para o alto. Dentre pessoas em situação de rua, assistentes sociais, orientadores socioeducativos, servidores da Prefeitura e diversos outros profissionais ali presentes, todos se juntaram, pularam juntos e celebraram o triunfo brasileiro.

Com o fim da partida, a euforia também foi uma só. Resultado e classificação a parte, o clima de felicidade e alívio era nítido ao apito final do árbitro. Mas nenhum sentimento foi maior do que aquele proporcionado pelo futebol e pela Assistência Social na tarde desta segunda-feira de Copa do Mundo: o de comunhão.

Quatro fotos com pessoas se abraçando

A felicidade geral com o fim da partida e a vitória da seleção brasileira