Vila Reencontro ‘Cruzeiro do Sul I’ completa um mês

No espaço inovador, famílias recebem acolhimento e planejamento para o ganho de autonomia

Pessoas que já estiveram em situação de rua agora contam com um espaço para chamar de lar.

Texto: Guilherme Guidetti

Fotos: Acervo SMADS

Um novo padrão de assistência social foi estabelecido na cidade de São Paulo há um mês. Foi em 24 de dezembro, na véspera do Natal de 2022, que as primeiras famílias chegaram à Vila Reencontro ‘Cruzeiro do Sul I’, no Canindé, zona norte. Pessoas que já estiveram em situação de rua e estavam em Centros de Acolhida da rede socioassistencial da Prefeitura ganharam um espaço para chamar de lar.

Desde então, a convivência entre as famílias e os assistentes sociais que prestam serviço no espaço evolui gradativamente, dia após dia. Mas cada passo dado, além de importante, é notório. É o que diz a Eliceli Bonan, 35, coordenadora operacional da Vila Reencontro ‘Cruzeiro do Sul I’.

“É visível como as pessoas estão mais tranquilas, as crianças correm mais e brincam mais. Estão todos com um semblante mais feliz e mais tranquilos no dia a dia”, afirma. Atualmente, 112 pessoas estão no serviço, sendo 48 crianças entre 0 e 12 anos. Os acolhidos na Vila Reencontro participam de uma cogestão do espaço com a formação de coletivos que estão responsáveis pela limpeza, alimentação e organização das áreas comuns, assim como pela horta comunitária.

O objetivo do Programa Reencontro não é só dar abrigo, mas também resgatar a dignidade de quem mais precisa, realizando a ressocialização na comunidade e no restabelecimento de vínculos com a família, além de oferecer o protagonismo das escolhas e consequências das mesmas. O projeto tem inspiração no modelo conhecido como Housing First (Moradia Primeiro), que surgiu nos Estados Unidos. A ideia é inverter o conceito de que a moradia é consequência - e não causa - do processo do resgate da autonomia. No caso das Vilas Reencontro, este é o primeiro passo: a moradia transitória.

Além da rotina da Vila, a Associação Voluntários para o Serviço Internacional (AVSI), responsável pela gestão do serviço, desenvolve atividades regulares, tais como palestras, oficinas, atividades esportivas, recreação infantil, dança, ioga, música, entre outras.

A intenção é ter um calendário diário de atividades diversas, de forma a oferecer um leque de possibilidades para os beneficiários, com adesão voluntária, mas também como parte da trajetória de cada família dentro da Vila, em direção à saída qualificada. Além disso, são servidos diariamente café da manhã, almoço, lanche da tarde e jantar.

Foto do espaço interno de um dos módulos da Vila Reencontro 'Cruzeiro do Sul I'

“Estamos investindo bastante, neste primeiro momento, em atividades recreativas como forma de construção de vínculo e de confiança entre as famílias e a equipe da organização. No sábado, fizemos uma gincana entre as famílias, foi um momento muito bom”, comenta Eliceli.

Os moradores da Vila Reencontro ‘Cruzeiro do Sul I’ vivem em casas modulares que possuem 18m² e estão equipadas com banheiros, pias e mobiliadas com camas de casal ou beliches e berços, geladeiras, fogões com duas bocas e guarda-roupas.

As áreas comuns são compostas por cozinha, refeitório, lavanderia, playground, banheiros, duas salas administrativas, uma sala para atendimentos sociais, depósito para alimentos e itens consumíveis, bicicletário, estacionamento para carroças, além de uma horta. A Prefeitura investiu, ao todo, R$ 2.796.000,00 na instalação da Vila.

As primeiras pessoas acolhidas na Vila participaram de um almoço no refeitório comunitário do espaço.

O que é o Programa Reencontro?

O Programa Reencontro realiza a entrega de unidades modulares destinadas prioritariamente a famílias - com ou sem crianças - que estejam utilizando as ruas da cidade como moradia há menos de dois anos. Cada família deve permanecer entre 12 e 24 meses nas moradias transitórias das Vilas Reencontro, e participar de capacitações profissionais e outros atendimentos sociais com o objetivo de ganho de autonomia.

O projeto possui três eixos de atuação: conexão, cuidado e oportunidade. O primeiro visa a estimular a recriação de vínculos preexistentes e o fortalecimento da rede de apoio. O primeiro elemento de conexão entre o poder público e o indivíduo em situação de rua é a abordagem social, sendo, portanto, um instrumento fundamental de vinculação das pessoas à política pública e às demais etapas e eixos do Programa Reencontro.

Já no segundo eixo, serão oferecidas moradias subsidiadas para aqueles que não possuem renda suficiente, nas seguintes modalidades: locação social, que é o aluguel subsidiado conforme renda; a renda mínima ou o auxílio pecuniário para pessoas sem problemas de drogadição; moradia transitória ou as unidades com alta rotatividade para que se busque evitar o processo de cronificação, promovendo rápido resgate da autonomia.

O eixo oportunidade, por fim, consiste na intermediação de mão de obra e emprego, através da capacitação profissional, da alocação em contratos públicos (Decreto nº 59.252/20), da busca ativa por vagas e do estímulo à contratação no setor privado.