Repúblicas: Serviços da rede socioassistencial contribuem para mudança de vida e busca de autonomia

Somente no primeiro semestre de 2023, as Repúblicas da rede de acolhimento intermediaram 115 saídas qualificadas


Texto e fotos: Giulia Rodrigues e Sabrina Ribeiro

A rede socioassistencial da Prefeitura de São Paulo busca, diariamente, desenhar um horizonte de esperança para aqueles que buscam deixar a situação de vulnerabilidade social e sonham em reconstruir sua vida fora dos serviços de acolhimento. Cerca de 25 mil vagas são voltadas para atender pessoas em situação de rua, e parte delas são destinadas a pessoas que estejam em um processo de construção de autonomia, o que é o caso das Repúblicas.


A Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS) conta com 17 serviços dessa tipologia, que, juntos, ofertam acolhimento provisório a pessoas em situação de rua durante o processo de construção de autonomia e busca por moradia independente. Uma característica importante das Repúblicas é o sistema de cogestão. Os moradores são orientados para distribuírem entre si a organização compartilhada da casa, além de terem a independência para organizar seus pertences e cozinhar a própria comida.


Nesses serviços, a palavra “acolhimento” vai muito além de apenas fornecer moradia. Os profissionais buscam diariamente auxiliar os atendidos com trabalho, família, resolução de conflitos e, principalmente, suporte emocional. A República São Lázaro I, localizada no Aricanduva, zona leste, é um grande exemplo disso.


O carpinteiro José Fernando dos Santos (62) está há mais de um ano no serviço e contou que, além do atendimento, a boa relação com a equipe socioassistencial colabora para que o convívio diário seja ainda mais leve. “Percebo que eles querem o melhor para a gente. O psicólogo e a assistente social sempre nos aconselham em questões de trabalho, em como administrar nosso dinheiro. Sinto que tudo que fazem é sempre pensando no nosso bem-estar”, disse.

João Fernando, acolhido da República São Lázaro I, enquanto esquenta seu almoço. Ele segura uma panela preta enquanto veste uma camisa vermelha.


Para Neli da Silva, gerente do serviço, apoiá-los é uma forma de ajudar a superar desafios. “Nós prestamos todo o auxílio necessário e os acompanhamos até mesmo quando saem daqui. Mesmo que alguém deixe o serviço, mantemos sempre o contato, porque não podemos abandonar quem passou tanto tempo conosco. É um vínculo extremamente importante, ainda mais para quem não tem a família perto”, contou.


Além do atendimento diário, os orientadores socioeducativos da República São Lázaro I se dedicam para promover a inclusão. O serviço costuma receber, também, residentes de diversas nacionalidades e culturas. Com isso, os moradores mais antigos recebem orientações para tornar o ambiente cada vez mais acolhedor para quem deixa seus países e seus costumes.

 

Luiz Castro Peres (39) era artista de rua na Venezuela e se mudou para o Brasil em busca de oportunidades de estudos. Ele foi acolhido pela República há três meses e, desde então, sonha em conquistar sua autonomia para constituir uma família. “Desde que cheguei, almejo muito um bom emprego, algo que eu goste. Também penso que seria um presente da vida poder me casar, ter filhos. As pessoas pensam apenas em trabalho e dinheiro e se esquecem de como é bom ter alguém para dividir a vida. Para mim, a felicidade está dentro de nós e nas pessoas em que amamos, não nas coisas materiais”, finalizou.

Luiz Carlos, venezuelano acolhido pela república São Lázaro I. Ele está sentado a uma mesa e faz um sinal com as mãos. A sua frente, há duas garrafas de suco de laranja com a tampa verde

Saídas qualificadas


As saídas qualificadas se dão quando um acolhido adquire a capacidade para viver de forma independente, sem o suporte ou supervisão da rede socioassistencial. Nas Repúblicas, das 115 saídas qualificadas contabilizadas de janeiro até o dia 9 de outubro deste ano, 91 foram saídas para moradia autônoma. Severino Ramos (41) partiu para sua moradia autônoma há um ano, depois de ter vivido 10 anos em situação de rua. Através do atendimento recebido no serviço, hoje ele trabalha e está concluindo um curso técnico de enfermagem.

“Graças ao trabalho multiprofissional da República São Lázaro I e de todas as pessoas que atuam no serviço, estou na minha casa. Assim como uma fênix, eu ressurgi das cinzas. O serviço me deu essa oportunidade, e eu sou muito grato pela dedicação da equipe”, contou, com um sorriso largo no rosto.


Rede socioassistencial


Os encaminhamentos para as Repúblicas são feitos através dos Centros de Referência Especializados para População em Situação de Rua (Centro POP), Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) e Centros de Referência Especializados de Assistência Social (CREAS).


Esses equipamentos podem ser voltados para o atendimento específico a homens ou mulheres e adultos ou jovens de 17 a 21 anos. Atualmente, 390 vagas de acolhimento são disponibilizadas para as Repúblicas. Os atendidos podem permanecer nos serviços por até dois anos, podendo ser estendido conforme a avaliação da equipe.