Atletas de boxe do COTP conquistam o ''Bolsa Atleta''

Andréia Bandeira e Loren Capecce, respectivamente bicampeã e vice-campeã do Campeonato Brasileiro, ganharão a quantia mensal de R$ 750, que deverá ser usada na manutenção pessoal no esporte.

O boxe feminino do Centro Olímpico de Treinamento e Pesquisa (COTP) está com o prestígio elevado no Brasil: duas de suas atletas foram selecionadas entre inúmeros pugilistas do país para receber a Bolsa Atleta, benefício dado pelo Ministério dos Esportes aos melhores competidores de cada modalidade esportiva.

Andréia Bandeira e Loren Capecce, respectivamente bicampeã e vice-campeã do Campeonato Brasileiro, ganharão a quantia mensal de R$ 750, que deverá ser usada na manutenção pessoal no esporte. ''Essa conquista foi uma surpresa para mim'', disse Andréia, de 18 anos.

Instituída por lei federal de 2004, a bolsa é destinada a atletas de esportes olímpicos e paraolímpicos. Seu objetivo é formar, manter e renovar as gerações de esportistas com alto potencial de conquistas — no boxe, apenas quatro jovens talentos receberam o incentivo, sendo três meninas.

''A partir de agora vou me dedicar ainda mais ao boxe, pois não precisarei fazer 'bicos' para conseguir dinheiro'', revelou a bicampeã brasileira, que já trabalhou como segurança e como entregadora de panfletos para custear os gastos esportivos. ''Roupas, tênis e suprimentos estarão na minha lista de compras'', acrescentou a pugilista da categoria 70 kg.

Realização

Com 13 lutas no currículo - dez vitórias e apenas três derrotas, Andréia espera aumentar significativamente o número de conquistas para alcançar a realização pessoal. ''Quero me tornar uma lutadora profissional e disputar uma olimpíada, se possível a de 2008, na China''.

Primeira colocada no ranking feminino da Confederação Brasileira de Boxe, Andréia fez questão de ressaltar a felicidade de seus pais quando souberam da conquista da bolsa. ''Minha mãe, que me apóia demais, ficou extremamente feliz. Foi uma vitória familiar''.

Rotina

Andréia mora na Zona Sul da cidade, no bairro de Santo Amaro. Os treinos, de segunda a sexta-feira, no período da tarde, têm duração de três horas e ganham carga extra em período de torneio. ''Quando há luta, eu também me preparo aos sábados. Isso sem contar a corrida tradicional aos domingos'', destacou a pugilista-estudante, que depois de suar a camisa no ginásio do COTP segue com seu material em direção à escola, onde faz a oitava série.

''Não é fácil encarar a rotina puxada, mas os resultados compensam e não me fazem desistir dos meus sonhos'', diz. Nos escassos momentos de folga, Andréia aproveita para ter uma rotina normal. ''Saio com meus amigos, curto minha família em casa, mas aproveito mesmo para descansar''.

Metas

O interesse pelo boxe sempre foi visível em Andréia, que ainda gosta de assistir a filmes de luta, em especial o do italiano Rocky Balboa, o famoso filme que projetou a carreira de sucesso do ator Sylvester Stalone. ''Eu sou fã do Rocky e desde pequena era muito agressiva, batia na molecada, então precisava aproveitar esse dom'', brincou.

Fã de lutadores brasileiros consagrados na modalidade, como Éder Jofre, Popó de Freitas e Sertão, Andréia espera seguir na trajetória das vitórias no ano de 2006. Em maio, do dia 10 a 14, ela participará da seletiva para o Pan-Americano de boxe, que será disputado no final do mesmo mês em Buenos Aires, na Argentina.

''Minha prioridade é vencer cada vez mais. Tenho que assegurar a continuidade da bolsa em 2007'', lembrou. Quanto ao Campeonato Brasileiro, a pugilista não escondeu a determinação de buscar o tri. ''Três títulos em seqüência. Será demais!''.

Charme, força e luvas rosas

Quem vê Loren Capecce, não acredita que a menina de 17 anos luta boxe. ''Muitos riem quando falo sobre o esporte que pratico, me chamam de carinha de neném'', diz a jovem. ''Sempre tem alguém para fazer piada, mas quando mostro do que sou capaz, acreditam no que eu falo.''

A atleta da categoria de até 54kg chama a atenção das adversárias pelo expressivo potencial e pelo par de luvas rosas, a cor preferida, que calça para os combates.

O encontro de Loren com o boxe surgiu de maneira inusitada. ''Eu treinava handebol no COTP, mas por causa de tendinite nos meus dois joelhos precisei parar. Foi então que comecei a fazer condicionamento físico na academia de boxe e aí não parei mais'', diz.

Incentivada pelos pais, Loren partiu para a sua primeira luta nos ringues aos 15 anos. O resultado, porém, não foi animador. ''Eu perdi, mas acho que a derrota serviu para me segurar nesta modalidade''. A prova disso pode ser observada em seu currículo. ''Se não me engano, tenho 12 lutas na carreira, sendo dez vitórias''.

Campeã Brasileira em 2004, Loren teve de se contentar com o vice no ano passado. ''Meus joelhos travaram durante uma luta e foi horroroso'', explicou a pugilista, em referência ao seu antigo problema de tendinite. Na final do torneio, disputado na Bahia em novembro passado, ela perdeu para Tainá Tagma, a número um do ranking da categoria 54kg.

Revanche

Para 2006, Loren espera conquistar o título do campeonato Pan-Americano da Argentina e recuperar o cinturão do Brasileiro. ''Quero fazer uma revanche com a Tainá'', avisou a número dois do ranking.

Como sonho, assim como Andréia Bandeira, Loren almeja a participação nos Jogos Olímpicos. ''Pretendo alcançar esse objetivo já em 2008. E depois quero a profissionalização. Não pararei de lutar antes disso''.

Dificuldades

Em certos momentos, a pugilista confessou que teve vontade de largar tudo. ''Especialmente quando meu joelho piorou, no final do ano passado. Mas minha família, em especial minha mãe, não deixou que eu fizesse isso; e sou grata a eles por terem me incentivado a seguir lutando'', destacou.

A rotina diária de Loren, que mora na Vila Clementino, tem início às 6h da manhã. Às 14h, após sair do colégio, inicia a fisioterapia no COTP, seguindo depois — às 15h30 — para os treinos de boxe. ''Nas folgas eu durmo'', conta.

Conquista

No terceiro ano do ensino médio, ela pretende fazer dois cursos superiores. ''Primeiro quero fisioterapia, depois educação física. Depois de formada e de realizar os meus desejos nos ringues, quero também montar uma academia de boxe, onde todas as atletas treinarão de rosa'', brinca.

Sobre sua primeira conquista de 2006, a Bolsa Atleta, Loren expressou toda sua alegria. ''Vou ganhar pelo meu trabalho, pelo meu esporte, e isso é maravilhoso. Representa um orgulho enorme para mim e para os meus pais. Preciso muito de novos equipamentos, entre eles novas luvas rosas!''