Campeonato comprova potencial do futebol feminino

Categoria ainda vista com preconceito ganha espaço graças a iniciativas como a Copa Feminina, da Secretaria de Esportes.

Os gritos da torcida quando as meninas entram em quadra são estranhos, ofensivos. “Você chuta muito fraco.” “Toda hora vocês se machucam.” “Tinha que ser mulher.” É um público pouco acostumado a assistir garotas jogando futebol, esporte sempre difundido como masculino. Mas basta a bola começar a rolar no Arena No Vale, que os comentários entre a torcida começam a mudar. “A número cinco joga muito bem”. “Aquela goleira joga com raça”. “Olha, que pulo bonito!” E ainda: “Que golaço!”

A final da 2ª Copa Feminina de Futebol Society, disputada no último sábado (8/7), no Anhangabaú, ajudou mais uma vez a diminuir o preconceito contra as garotas e mulheres que jogam futebol em São Paulo. Foram mais de 30 jogos com 18 equipes inscritas em três categorias, disputados em dois meses de campeonato.

“O problema é a discriminação. Parece que a população não está preparada para isto. Não existe incentivo dentro da própria família. Poucas aqui contam com apoio. Elas vão pela vontade mesmo”, desabafa Adaílton Galdino, técnico do Dois Toques CEU Curuçá, enquanto sua equipe disputa a final da categoria juvenil. “Se fosse um menino...”, lamenta.

“Não podemos dar as costas para isso (o futebol feminino despontando) e fingir que não existe”, ressalta o Secretário Municipal de Esportes, Lazer e Recreação, que compareceu ao Anhangabaú para acompanhar a premiação. “É gratificante porque a gente foi pioneiro. Em um espaço muito pequeno de tempo, menor do que as pessoas imaginam, o futebol feminino vai estar muito à frente de muitas outras modalidades esportivas e outras categorias”, completa o secretário.

A jogadora do Nova Era Regina Maura, 43 anos, atleta mais velha da Copa Feminina, comprova as palavras de Heraldo. “Este tipo de campeonato da prefeitura é o que nos salva. Os empresários têm que acreditar um pouco mais no futebol feminino. A gente tem muitas jogadoras boas”, pede Maura, jogadora há 25 anos. E o preconceito? A atleta diz que realmente não se importa e ainda ajuda as amigas mais novas na hora de lidar com o assunto. “A gente dá uns toques para as meninas não ligarem para as provocações”, afirma.

A Copa Feminina acabou e deve voltar no segundo semestre. Os jogos das finais certamente fizeram os gritos de ofensa se transformarem em manifestações de apoio e aplausos de admiração pelo futebol bem jogado.

O Campo Grande foi campeão na categoria principal, com Unidos pela Vida em segundo e Nova Era em terceiro. Na categoria juvenil, o título ficou com o Dois Toques CEU Curulá, nos pênaltis.