Curso de Capacitação ensina o poder do silêncio

O objetivo do desafio é introduzir os profissionais no universo das pessoas com deficiência auditiva, onde os gestos e a visão valem mais que mil palavras.

São 170 professores e técnicos de educação física reunidos no Ginásio do Pacaembu e nenhum som é ouvido. Quem está do lado de fora, deve acreditar facilmente que não há ninguém no local.

O grupo está participando de uma gincana diferente. Eles têm que realizar uma atividade recreativa sem poder utilizar o recurso de comunicação mais utilizado pelos humanos: a fala. O objetivo do desafio é introduzir os profissionais no universo das pessoas com deficiência auditiva, onde os gestos e a visão valem mais que mil palavras.

Foi neste clima que aconteceu a parte prática do IV módulo do programa Práticas de Educação Física para Pessoas com Deficiência e Mobilidade Reduzida. A parceria da Seme (Secretaria de Esportes, Lazer e Recreação da cidade de São Paulo) com a Seped (Secretaria Especial da Pessoa com Deficiência e Mobilidade Reduzida) aconteceu na manhã de sexta-feira (04/08), no ginásio poliesportivo do Pacaembu.

“Já temos mais de 600 técnicos capacitados até este curso. Neste módulo vieram mais 170 e também já levamos esta proposta para a educação, pra fazer com os profissionais de lá”, comemora Eliana Mutchnik, assessora de esportes da Seped.

O módulo do curso foi ministrado pela professora mestra Dalva Alves dos Santos Filha, que trabalha há mais de 20 anos com deficientes auditivos. Para Dalva, o principal objetivo do curso é mostrar que existem várias formas de comunicação para ministrar aulas de educação física para pessoas com deficiência auditiva.

“O professor não pode ter vergonha de gesticular e de simular situações. A maneira do surdo interpretar é muito visual e às vezes você tem que ser muito óbvio. Não pode ter vergonha”, explica.

Ela também acredita que os profissionais não podem achar que a língua é a única maneira de se comunicar com os deficientes auditivos. “A língua é o recurso que mais usamos, mas é apenas um deles. Existem vários outros recursos de comunicação”, ressalta Dalva.

Kátia Fiorante, intérprete de libras (popularmente conhecida como “linguagem dos surdos”) há 18 anos, trabalhava no evento traduzindo as informações de Dalva para os deficientes auditivos presentes. Para a profissional, existe um outro segredo para conseguir se comunicar bem com os surdos. “Além de aprender libras, você tem que conviver com eles. Nenhum curso ensina você a interpretar. Só a convivência é que traz a prática”, explica a intérprete.

O quinto e último módulo do Curso de Capacitação acontece no fim de agosto e trará o tema “Estratégias de Aula e Políticas de Inclusão”. Quem participa dos cinco módulos leva o certificado do curso completo. Além do programa de práticas para pessoas com deficiência auditiva, já foram realizados cursos para pessoas com deficiência visual, física e para pessoas com déficit intelectual.