A difícil tarefa de sobreviver às tragédias

Defesa Civil da Cidade de São Paulo realiza nesta sexta-feira (dia 29) o 1º Encontro Municipal sobre Psicologia de Desastre. O evento acontece no auditório do Centro Universitário Sant'Anna, zona Norte da capital paulista.

A Defesa Civil da Cidade de São Paulo realiza nesta sexta-feira (dia 29) o 1º Encontro Municipal sobre Psicologia de Desastre. O evento acontece no auditório do Centro Universitário Sant'Anna, zona Norte da capital paulista, a partir das 8h.

A intenção do encontro é mostrar para os mais diversos profissionais que lidam com situações de catástrofe, como incêndios em favelas, enchentes e acidentes aéreos, a importância da aplicação da psicologia, tanto entre as equipes de resposta a desastre quando sobre a população atingida.

"Em uma situação dessas, as mais diversas reações de natureza psicológica despontam nas pessoas. Medo, raiva, insegurança, revolta e agressividade são sentimentos comuns em populações atingidas por desastres", comenta a psicóloga, especializada em psicologia de desastres, Lyani Prado, que conduzirá os trabalhos do seminário.

Desta forma, a psicologia de desastre serve para capacitar as equipes de emergência a lidar melhor com as reações das populações atingidas em uma situação de calamidade. Outro objetivo desta disciplina é também preparar estes profissionais para trabalhar melhor com suas próprias emoções, não deixando que se abalem diante de uma catástrofe.

Apesar de ser amplamente difundida em outros países, psicologia de desastres ainda é um tema novo no Brasil e o evento pretende colocar o assunto na pauta de discussão das equipes de emergência da cidade de São Paulo e também de outros municípios.

"Com o encontro, pretendemos abrir caminho para uma discussão mais ampla sobre o tema. Nosso objetivo é mostrar a necessidade da aplicação da psicologia nos vários níveis de atendimento emergencial e de prevenção a desastres, colocando o tema dentro da rotina da cidade de São Paulo", comenta o coordenador de ações de socorro e assistenciais da Defesa Civil e organizador do evento, Celso Carvalho de Souza.

Para o coordenador do Sistema Médico de Prevenção e Atendimento às Calamidades Públicas e Acidentes de Grandes Proporções do SAMU-192, Carlos Alberto Eid, a participação de profissionais do seu departamento vai proporcionar uma melhora do serviço prestado à população.

“O tema psicologia de desastre, apesar de pouco explorado no Brasil, é de suma importância. E acredito que as equipes do SAMU vão poder melhorar a qualidade das respostas às calamidades com a aplicação da psicologia”, analisa Eid. O SAMU-192, órgão ligado à Secretaria Municipal de Saúde, inscreveu 17 profissionais neste evento.

Além do SAMU-192, outro braço importante entre as equipes de respostas à desastres diretamente ligados à Prefeitura da Cidade de São Paulo são as Coordenadorias Distritais de Defesa Civil. São 31 CODDECs distribuídos em cada uma das 31 subprefeituras.

Estas coordenadorias lidam diretamente com a prevenção e a resposta a calamidades, principalmente enchentes, deslizamento de encostas e incêndios em favelas, gerenciando abrigos, distribuindo donativos e realizando remoções preventivas, entre outras atividades.

Membros destas equipes também estarão presentes neste seminário. Depois deste evento, a Defesa Civil de São Paulo pretende montar, já no segundo semestre deste ano, um curso para capacitar melhor os profissionais das equipes de respostas à desastres.

“Nossa idéia é trazer para a realidade paulistana o papel do apoiador de psicologia, alguém que trabalhe esses conceitos da psicologia de desastres dentro das situações de calamidade que podemos enfrentar. E, como órgão gestor das políticas de Defesa Civil para a cidade de São Paulo, temos procurar sempre melhorar a capacitação dos profissionais que atendem a população em momentos tão difíceis”, afirma o coordenador geral da Comissão de Defesa Civil da Cidade de São Paulo, Ronaldo Figueira.

A Espanha, onde o tema é estudado desde o início dos anos 90, está entre os países onde a psicologia de desastres é mais difundida. A Direção Geral de Proteção Civil tem um grupo que trata exclusivamente do assunto.

“O trabalho desenvolvido na Espanha também serviu de modelo para termos um maior contato com o tema e também para mostrar-nos que a psicologia de desastres também pode ser aplicada no Brasil, sem maiores dificuldades”, comenta Celso Carvalho de Souza, organizador do encontro desta sexta-feira, que também destacou a Costa Rica como país que serve de referencial sobre o tema, já estudado pela Organização Pan-americana de Saúde.

Embora ainda não exista um consenso sobre uma definição de “psicologia de desastre”, o conceito utilizado pelos espanhóis é o mais difundido.

“A psicologia de desastres estuda a reação das pessoas diante de eventos capazes de provocar grandes perdas materiais e humanas. E para sua aplicação, usamos outros três ramos da psicologia: a social, a organizacional e a clínica”, explica a psicóloga integrante do Grupo de Psicologia de Desastres da Direção Geral de Proteção Civil da Espanha, Isabel Vera Navascués.

Com a psicologia social, avalia-se o comportamento coletivo e trabalha-se com programas de reabilitação psicossocial, buscando com que as populações atingidas retornem à normalidade o mais rápido possível.

Já a psicologia organizacional trabalha com a capacitação e o treinamento das equipes de resposta à desastres a fim de prepará-las para as mais diversas situações de estresse encontradas em eventos calamitosos e também treina-los para prestar apoio psicológico.

Para lidar com sintomas, como a ansiedade, é utilizada a psicologia clínica. Neste caso, pode até ser criada uma rede assistencial para se oferecer tratamento às pessoas que passem a sofrer de algum distúrbio causado após uma situação de calamidade.

Mas muita gente pode pensar que o papel da psicologia é secundário ou até dispensável em um cenário de catástrofe, colocando que o atendimento de socorro deve se resumir ao âmbito da medicina. O apoio psicológico, no entanto, tem se mostrado cada vez mais necessário.

O sucesso demonstrado pela intervenção de psicólogos em populações que sofreram com desastres em países onde esta prática já se tornou rotina se torna uma prova da importância da aplicação da psicologia nesses casos. Além disso, é notória a carga de estresse a qual essas populações, afetadas por calamidades, são expostas.

“Os desastres são eventos imprevisíveis, rápidos e que mexem bastante com a vida cotidiana. Eles acabam afetando o equilíbrio psicofisiológico das pessoas, pois causam perdas materiais e mortes . Sendo assim, o uso da psicologia se faz necessário para que as pessoas que passaram por um desastre recebam estímulos a fim de se reabilitaram e, na medida do possível, voltem a Ter uma vida normal”, diz Isabel Vera Navascués, da Proteção Civil Espanhola.

Todas as 300 vagas abertas para o 1º Encontro Municipal de Defesa Civil sobre Psicologia de Desastre foram preenchidas. Além de membros de diversos órgãos de emergência que atuam na cidade de São Paulo, estarão presentes ao evento representantes de 18 comissões de Defesa Civil de outros municípios paulistas.

Para organizar o evento, a Defesa Civil da Cidade de São Paulo conta com o apoio do Grupo Santander Banespa, que patrocinou todo o material a ser entregue aos participantes.

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