Os contrastes da Subprefeitura do Ipiranga

Os extremos que convivem na região da Subprefeitura do Ipiranga, Zona Sul, são nada mais que um exemplo dos contrastes da própria cidade de São Paulo.

De um lado o Ipiranga, bairro tradicional de São Paulo e que já foi um dos refúgios dos nobres da cidade. Do outro Heliópolis, a maior favela do município, com cerca de 100 mil habitantes. Os extremos que convivem na região da Subprefeitura do Ipiranga, Zona Sul, são nada mais que um exemplo dos contrastes da própria cidade de São Paulo.

A Subprefeitura responde por uma população de 430 mil pessoas, dividida entre os bairros do Ipiranga, Cursino e Sacomã. Ponto turístico da cidade por abrigar os marcos da Independência, o Ipiranga sonha recuperar o glamour do passado.

Potencial não falta. Além do Museu do Ipiranga e do Parque da Independência, estão localizados na região o Museu de Zoologia e o zoológico. A Subprefeitura estuda campanhas em parceria com estes órgãos para estimular a visitação.

A recuperação econômica da região, porém, passa por problemas estruturais. Um deles deve ser minimizado dentro de mais ou menos um ano, quando o Governo do Estado inaugurar as estações de Metrô Ipiranga e Imigrantes, na avenida Ricardo Jafet. O anúncio já levou novos investimentos imobiliários para a região.

O trânsito é um dos grandes desafios do Ipiranga. Além de não contar com Metrô, a região serve como via de passagem para os moradores de São Bernardo que trabalham no centro de São Paulo e dos paulistanos que descem rumo ao litoral. O resultado: congestionamentos e transtornos para a população local. Segundo o Subprefeito, é preciso abrir vias fronteiriças que desafoguem o trânsito dentro dos bairros. A Subprefeitura do Ipiranga faz fronteira com os municípios de São Bernardo, São Caetano e Diadema.

Outro motivo de reclamação dos moradores é em relação à sujeira. De acordo com o Subprefeito, há muitas pichações, entulhos nas ruas e córregos e galerias entupidas. A Subprefeitura corre para melhorar a qualidade dos serviços de limpeza e vai lançar uma campanha de combate à pichação. A manutenção de praças deve ser o objetivo de uma parceria com a iniciativa privada.

educação é mais um exemplo dos contrastes da região: o índice de analfabetismo no Ipiranga é de 4,1%, menor que a média de São Paulo (4,8%). No entanto, em Heliópolis estima-se que 44% dos habitantes sejam analfabetos. Outra grande demanda é por vagas em creches: cerca de 9 mil apenas no bairro do Ipiranga, de acordo com a Coordenadoria de Educação da região. Em relação à saúde, são 18 Unidades Básicas de Saúde (UBS), três hospitais estaduais e três privados. O maior hospital é o de Heliópolis, que recebe também moradores de São Caetano.

A Subprefeitura do Ipiranga é uma das áreas mais arborizadas da Capital, mas enfrenta um grande problema ambiental: a contaminação do terreno da Shell na Vila Carioca, descoberta em 2002. A Cetesb e o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) constataram no terreno e nas águas subterrâneas a presença de substâncias como benzeno, tolueno, xileno, etilbenzeno e chumbo orgânico. A Secretaria Municipal de Saúde ainda não concluiu se houve danos à saúde da população.

Para fazer frente aos desafios de Heliópolis a população se organiza em várias associações de moradores, unidas em torno da União de Núcleos, Associações e Sociedades de Heliópolis e São João Clímaco (Unas). A associação busca parcerias com a iniciativa privada para as ações de combate à pobreza, promovendo a cidadania e a inclusão social. A entidade também se preocupa com os sem-teto e as crianças sem creche. Uma das parcerias da Unas no campo da inclusão digital foi firmada com a Secretaria Municipal de Comunicação para a administração do Telecentro Heliópolis.

O telecentro, inaugurado em janeiro de 2003, conta com 16 computadores ligados à internet em alta velocidade. Além do acesso à rede a comunidade pode se inscrever para os cursos de informática oferecidos, ministrados por voluntários. Todos os serviços disponíveis no Telecentro Heliópolis, assim como nos demais 121 telecentros da cidade, são gratuitos.

A responsável pelo telecentro é Elenice Cristina Tavares da Silva, voluntária da Unas há 11 anos. Quando começou a trabalhar em Heliópolis, Cristina, como é conhecida, tinha apenas uma noção de informática. Hoje, já fez vários cursos e se sente gratificada com o trabalho. "É desafiador", diz. "Meu horizonte se ampliou bastante". O estudante Antônio Vieira, de 23 anos, também aprendeu muito no telecentro. No início, Vieira freqüentava o local para fazer seus trabalhos escolares. Hoje ele é monitor no período da manhã, três vezes por semana.

Os voluntários do telecentro querem ir além na proposta de inclusão digital e cidadania. Um dos projetos é criar um jornal comunitário, que atenda aos interesses da população de Heliópolis. Danilo Leal, de 13 anos, é um dos repórteres mirins. Segundo Danilo, a equipe ainda está em busca de um patrocínio para que o jornal possa ser impresso, mas o site do Governo Eletrônico é o caminho para a publicação de matérias sem custo. "Devo publicar uma no site em breve", afirma.