Prefeitura incentiva a recuperação de cortiços no centro da cidade

Há cerca de dez anos, havia aproximadamente 170 mil famílias vivendo em cortiços de São Paulo. Agora, uma parceria com base na Lei Moura vai começar a mudar essa realidade, com reforma e melhoria de habitação na cidade.

Quando escreveu O Cortiço, em 1890, o escritor maranhense Aluísio Azevedo não imaginaria que esse tipo de moradia atravessaria o século XX, chegando aos nossos dias com as mesmas características de exploração e desumanidade.

Entre os vários problemas de uma cidade como São Paulo, com mais de 10 milhões de habitantes, é na questão habitacional que vemos melhor sua vulnerabilidade social. E os números são eloqüentes. Levantamento da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) feito entre 1993 e 1994 mostrava que havia na cidade cerca de 170 mil famílias vivendo em cortiços, exemplo emblemático do indivíduo reduzido a uma fração de espaço. Mesmo não havendo pesquisas recentes, é certo que esse número não diminuiu.

Comprometida com a melhoria das condições habitacionais da cidade, a Prefeitura, através da Secretaria de Habitação, vem mudar radicalmente essa realidade. Em parceria com o PAC - Programa de Atuação em Cortiços da CDHU - Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Governo do Estado de São Paulo, com base na Lei Moura, que regulamenta as condições dos cortiços, está realizando a primeira reforma de um desses imóveis: um casarão na rua Djalma Dutra, na região da Luz, que mantém alguns detalhes arquitetônicos requintados, característicos do início do século XX.

Erguido durante a década de 1910, o casarão conta com a técnica de alvenaria estrutural de tijolo de barro trazida pelos mestres-de-obras italianos. A fachada, original, continuará a mesma, como forma de preservar a memória arquitetônica da cidade. Internamente, porém, o imóvel passará por uma ampla reforma para adequar os ambientes e deixá-los em condições dignas de moradia.

As instalações hidráulica e elétrica, por exemplo, serão totalmente refeitas. Divisórias inadequadas, que repartiam os cômodos originais em compartimentos minúsculos e mal ventilados, serão retiradas. Das treze famílias que habitam o local, seis permanecerão no prédio reformado, as outras serão encaminhadas para outros programas habitacionais.

A Lei Moura

Aprovada há 14 anos, a Lei Municipal 10.928/91 – também conhecida por Lei Moura ou Lei dos Cortiços – tem como objetivo melhorar as condições de habitação dos cortiços, adequando-os aos padrões mínimos de segurança. No sobrado da rua Djalma Dutra, as famílias que permanecerem no prédio reformado continuarão pagando o mesmo valor que pagam hoje - 200 reais por mês.

Isso é possível excluindo a figura do "atravessador", que aluga o imóvel para depois sublocá-lo. Sem a presença desse indivíduo, o proprietário pode alugar diretamente aos inquilinos e manter o valor do aluguel, recebendo até mais do que antes. A nova locação será baseada em contrato, supervisionado pela Assessoria Jurídica da Secretaria de Habitação.

A Lei Moura propõe parâmetros modestos e realistas de habitabilidade, como área mínima de cômodos, número mínimo de equipamentos sanitários, proporções corretas das aberturas para iluminação e insolação, entre outros.

O proprietário

No entanto, para o projeto funcionar bem, o envolvimento do proprietário é fundamental. Entusiasta da idéia, o proprietário do prédio, Theodoro Bittar Filho, tem sido o parceiro ideal para o sucesso da empreitada. Arcando com os custos da reforma, uma vez que a propriedade do prédio continuará sendo inteiramente dele, comemora: "Eu estou orgulhoso de saber que a Prefeitura está agindo assim, melhorando as condições do bairro. É deprimente a situação em que vá-rios imóveis se encontram. Essa intervenção vai valorizar os prédios, os negócios, tudo. Acho ótimo porque tenho a oportunidade de ajudar minha cidade a acabar com esses locais degradados".

A reforma vai durar quatro meses. Durante esse período, as famílias receberão uma verba de até 300 reais para alugar um imóvel onde permanecerão até voltarem para o antigo lar. Para a coordenadora do Programa de Cortiços da Secretaria de Habitação, Maria Silvia Mariutti, São Paulo tem uma dívida secular com os moradores de cortiço. " A CDHU já é nossa parceira nesse projeto e a colaboração das subprefeituras é fundamental. Só com ações conjuntas o poder público vai melhorar as condições de vida nos cortiços", diz ela.

Parcerias

A atuação dos governos municipal e estadual se dá em três eixos: Capacitação, que informa proprietários, sublocadores e inquilinos sobre seus direitos e deveres; Fiscalização, tarefa sempre realizada em conjunto com as subprefeituras; e Intervenção, na qual o poder público usa a Lei para multar ou mesmo impedir o funcionamento da atividade ou, como no caso da rua Djalma Dutra, orientar o proprietário nas modificações necessárias e providenciar a realocação para as famílias que deverão sair para se chegar a um número adequado de moradores. É nessa realocação que entra a parceria com a CDHU.

Esse é um bom exemplo de solução criativa para o problema habitacional. Ações como esta têm reflexo também em outras áreas, como a recuperação da paisagem urbana e a educação dos munícipes por meio de uma política habitacional humanista.

Isto ainda é o começo. Mas, neste caso, o que conta é a mudança de paradigma: o poder público se faz presente para resolver o problema que, explorado pelo talento daquele escritor, evidenciou os limites da arte. Se a literatura deu eternidade àquele drama, a política pode lhe trazer o fim.

Fonte: Diário Oficial do Município.

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