Sessões de psicodrama atraem interessados ao Centro Cultural São Paulo

Na sociedade moderna, o homem tende a isolar-se cada vez mais, e com isso passa a pensar que os “grandes” problemas que o afligem são de sua exclusividade. Se conseguisse dividir seus temores com outros, talvez descobrisse estar enganado a esse respeito.

Já dizia a marchinha carnavalesca de 1944, de autoria de Ataulfo Alves e Mário Lago: “Atire a primeira pedra aquele que não sofreu por amor”. Afinal, quem nunca padeceu por um amor perdido, por ser vítima de preconceito, por se sentir só, por ter de tomar uma decisão importante ou por tantos outros medos e incertezas? Sentimentos que, embora sofridos individualmente, são comuns a toda a humanidade, mostrando que, apesar de nossas diferenças, em uma coisa nos parecemos: somos humanos e, como tais, temos nossas qualidades, mas também nossas fraquezas.

Na sociedade moderna, o homem tende a isolar-se cada vez mais, e com isso passa a pensar que os “grandes” problemas que o afligem são de sua exclusividade. Se conseguisse dividir seus temores com outros, talvez descobrisse estar enganado a esse respeito.

Compartilhar problemas

Discutir, analisar e compartilhar temas da vida cotidiana é a proposta das sessões gratuitas de psicodrama que ocorrem todas as manhãs de sábado, na sala Adoniran Barbosa, do Centro Cultural São Paulo (CCSP). E o mais interessante é que não se trata apenas de relatos.

Escolhido o tema a ser trabalhado, todos os participantes montam a cena e tomam parte dela como se estivessem no teatro, os que querem como atores, e o restante como espectadores com direito a palpites e intervenções. Ao participar das encenações ou simplesmente assistindo-as, as pessoas descobrem que não estão sozinhas dentro de uma redoma, que o mundo inclui também os outros e que é muito bom conversar com seu vizinho, mesmo que no começo ele lhe pareça um tanto fechado.

Os encontros

O CCSP implantou o psicodrama em suas atividades rotineiras no início de 2003. Desde então, o número de freqüentadores tem aumentado gradativamente. “Em algumas ocasiões chegamos a reunir por volta de 200 pessoas”, diz o psiquiatra e psicodramatista Antônio Carlos Cesarino, que, com a psicoterapeuta Cida Davoli, coordena o projeto. “A média, no entanto, é de 60 pessoas por sessão.” O público é sempre bem variado. Formado por donas-de-casa, executivos, estudantes, aposentados e outras pessoas das mais diversas idades, classes sociais e regiões da cidade.

Um dos participantes mais assíduos é André de Souza Gomes, 33 anos, que vem de Santo Amaro para acompanhar os encontros. “Sou muito introvertido. Aqui, não só tenho a oportunidade de me soltar, como de aumentar o número de amigos. Além disso, percebo que, a cada vez, melhoro meu comportamento e aprendo mais coisas”, diz ele. Já Aurora Vieira Ribeiro, uma senhora de 81 anos, moradora do Jardim Paulistano, que participa dos encontros praticamente desde o início do projeto, afirma que “essas sessões públicas sempre acrescentam algo a mais na minha vida”.

O psicodrama, que trabalha com a espontaneidade e com os sentimentos individuais e coletivos, proporciona aos participantes a oportunidade de serem, ao mesmo tempo, autores e atores das histórias levantadas nas sessões.

Mas não se trata, conforme explica Cesarino, de um teatro como todos conhecem, em que uma peça, escrita por um autor, é encenada por artistas para uma platéia. No psicodrama, a platéia e os artistas confundem-se ao seguir um texto improvisado na hora, com base em uma situação apresentada naquele momento. “Além disso, essas sessões possibilitam a experiência de uma vivência de aproximação com pessoas, o que dificilmente ocorreria no cotidiano”, afirma ele.

Psicodrama no Centro Cultural

Um dos objetivos dos encontros de psicodrama do Centro Cultural São Paulo, além de fazer com que muitas pessoas se beneficiem gratuitamente desse tipo de atividade, é dar a diversos profissionais, que trabalham com diferentes técnicas, a oportunidade da troca de experiência. É o caso da psicodramatista Lucienne Rego Baldez. “Venho aqui para apreciar o que meus colegas desenvolvem na área”, diz.

Desde o início do projeto, mais de 50 profissionais do ramo já foram convidados para dirigir as sessões. Basicamente, todas as sessões seguem a mesma estrutura: primeiro escolhe-se o tema a ser abordado e as pessoas da platéia são convidadas a participar. Em seguida, antes que a situação escolhida seja dramatizada, realizam-se algumas atividades de aquecimento para que todos se descontraiam.

Depois da representação, o público interage e opina sobre o que viu ou relata fatos semelhantes, uma vez que, de uma maneira ou de outra, a cena apresentada pode ter muito a ver com o que ocorre na vida de outras pessoas. No final, realiza-se uma discussão sobre o que ocorreu, sem julgamentos. “Em muitas situações da vida a gente se sente inferior, mas aqui percebemos que somos todos iguais”, comenta Cesarino.

Um exemplo de sessão

Em 30 de abril, numa manhã fria e úmida, a psicoterapeuta Valéria Barcellos, que tem vasta experiência na área teatral, dirigiu uma sessão. O tema escolhido por ela para ser trabalhado foi rivalidade, um assunto muito freqüente.

“Escolhi o tema, porque acredito que a rivalidade ocorre desde que a gente nasce. E, para que a sessão fosse leve, fiz uma coisa divertida, lúdica”, conta. Para tanto, como aquecimento, foram utilizadas diversas brincadeiras infantis, como o “jogo do sério” (em que as pessoas, aos pares, têm de se encarar até que uma ria), jogo de bolas coletivo, e, finalmente, uma luta de espadas, novamente em duplas. Quando o adversário era atingido, tinha de cair no chão e pensar em um fato de sua vida em que houvesse algum tipo de rivalidade.

Foram, então, escolhidos e encenados, separadamente, dois casos reais propostos pelos participantes: a traição do namorado com uma amiga e a disputa de uma garota pela amizade de suas colegas. Com base na dramatização desses dois fatos, o público teve a oportunidade de ir ao palco para colocar-se no papel das personagens ou simplesmente falar, de seus lugares na platéia, sobre o que ocorria na cena. “As opiniões dividem-se, mas, em momento algum, existe uma conclusão e, muito menos, uma crítica ou um juízo de valores sobre o que foi representado. Cada freqüentador leva para casa o que aproveitou da sessão e, muito provavelmente, se sente melhor do que estava no início do processo”, afirma a psicoterapeuta.

Participação

Participar das sessões de psicodrama é fácil. Basta se dirigir à sala Adoniran Barbosa, sábado, às 10h30, sem necessidade de inscrição. Os encontros terminam às 13h30. A entrada é franca. Para este mês, estão convidados os seguintes psicodramatistas: Aníbal Mezler, dia 4, Cláudia Fernandes e Gota D’Água, dia 11, Carlos Calvente, dia 18, Ronaldo Pamplona e Carlos Borba, dia 25.

Serviço

Centro Cultural São Paulo
Sala Adoniran Barbosa
Rua Vergueiro, 1000, Paraíso
Telefone: 3277-3611, ramal 205

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