Teatro diverte as férias da criançada

Espetáculos gratuitos - na Biblioteca Monteiro Lobato - e a preços populares - no Centro Cultural e no Teatro Arthur Azevedo - são ótimas opções culturais para crianças e jovens ainda nestas férias de julho.

Todo ano é a mesma coisa. Chega o período de férias e é um agito total. De um lado, as crianças ansiosas querendo saber como aproveitarão os dias de folga. Do outro, os pais preocupados em arrumar maneiras para que a garotada não fique o tempo todo assistindo à programação televisiva ou diante do computador.

Para resolver esse dilema, a boa opção é levá-las ao teatro. Durante todo o mês de julho, o grupo de Teatro Infanto-juvenil da Biblioteca Monteiro Lobato (Timol) fará apresentações gratuitas da peça Alice no Sítio do Lobato,na qual Alice, do País das Maravilhas, se encontra perdida no Sítio do Pica-Pau Amarelo devido a um feitiço de Cuca.

Outro espetáculo a ser apresentado é O Baú da Inspiração Perdida, premiado, em 2004, no Festival Estudantil de Teatro de Caraguatatuba como melhor espetáculo infantil. Assistido, em junho, por alunos da rede pública, o espetáculo, que incentiva a leitura, conta as aventuras vividas por Tavinho e Patrícia ao encontrar um livro inacabado de histórias infantis.

Intrigados com o fato das histórias estarem pela metade e impulsionados pela curiosidade infantil, os dois heróis são levados, de uma maneira mágica, para dentro do livro. Enquanto percorrem os capítulos da obra, em busca da inspiração perdida pelo autor, os pequenos aventureiros encontram-se com princesas e bruxas, príncipes e vilões, todos esperando ansiosos pelo final feliz de suas histórias. No desenrolar da trama, o público entende qual foi o motivo que levou o autor a abandonar sua obra antes de concluí-la.

Na platéia, Taynan Cury de Oliveira, de 11 anos, estudante da 5ª série da Escola Estadual Professor Fidelino de Figueiredo, foi um dos que entenderam o recado dado pela peça. “Apesar de gostar mais de jogar bola, acho que para os escritores não se desanimarem é preciso que as crianças leiam mais”, afirma.

Com o objetivo de formar público para o teatro, o Timol apresenta suas produções para as escolas da região, mas há quem vá assistir espontaneamente às apresentações, como Luciana Alves, de 15 anos, que, após o espetáculo, chegou à conclusão de que “é importante ler e não apenas ficar em casa diante do computador”.

Grupo Timol, mais do que entretenimento

Pensando em teatro para crianças e feito por crianças, o grupo Timol existe há 40 anos na Biblioteca Municipal Monteiro Lobato e é composto, atualmente, por 25 pessoas de 14 a 21 anos. Coordenado e dirigido por Emilie Sugai e Roselaine Braz - Rose, como prefere ser chamada -, o grupo oferece oficinas abertas ao público da região. Com jogos, exercícios, estímulos à criatividade, confiança e socialização, as crianças e os adolescentes que passam por ali constroem referências de vida, aprendendo a trabalhar em grupo, dividir responsabilidades, organizar-se e concentrar-se.

As coordenadoras acreditam que o fazer teatral abre horizontes para esses jovens, já que, muitos deles, descobrem novas habilidades em cena. “Fernando Lima tem 22 anos e está aqui desde os 7. Hoje, além de atuar, ele tem um grupo de dança e compõe músicas”, afirma Rose.

Nas oficinas de teatro para as crianças menores, com idade entre 7 e 8 anos, as orientadoras colocaram monitores para dar aulas para os pequenos. Esses monitores são alunos que estão há mais tempo no Timol. Elas vêem essa nova “atuação” de seus alunos como grande estímulo para que passem os conhecimentos adquiridos à frente, além de demandar trabalho de pesquisa de exercícios e brincadeiras para crianças.

Por estar em uma biblioteca, o grupo tem como prioridade dar enfoque à literatura, principalmente no processo de pesquisa para a montagem de espetáculos. Para a escolha de novo texto, o elenco lê uma série de peças do acervo da biblioteca. Depois, discute-os e há uma troca entre as coordenadoras e os alunos, ouvindo e aceitando sugestões de todos.

“Além de estarmos num espaço favorável à leitura, nos preocupamos muito com a qualidade dos textos que vamos montar, já que fazemos muitas apresentações para escolas públicas da região e elas nos dão retorno do que repercute com os alunos de lá”, acrescenta Rose, que diz que os temas abordados nas peças incentivam novas discussões em sala de aula, como o gostar de ler – abordado em O Baú da Inspiração Perdida.

Outro cuidado do grupo é fazer um teatro infantil que fale diretamente com a criança, que não a trate como um ser inferior, que não faça com que ela se sinta desestimulada a assistir a novos espetáculos, tornando-se um adulto que costuma dizer que ir ao teatro é chato. Jéssica Feitosa, 14 anos, atriz do Timol, sente grande satisfação ao se apresentar para crianças. “Às vezes, a gente vem para cá cansada e o nosso salário é pago quando a peça termina e vemos a alegria das crianças ao nos abraçar e dizer que gostaram do nosso personagem”, festeja.

Em outros espaços, criança também tem vez

Apresentações de teatro para crianças são parte constante da programação do Centro Cultural São Paulo (CCSP). Em respeito ao público mirim, as peças ali apresentadas, segundo Lizette Negreiros – responsável pela programação infanto-juvenil –, são selecionadas observando-se critérios que levam em conta, entre outros itens de igual importância, qualidade do texto, direção e elenco.

Neste mês, com ingressos a preços populares, o Centro Cultural oferece ao espectador, com idade acima de 5 anos, dois espetáculos para sua escolha. Na Sala Paulo Emílio, o Grupo Mitos encerrou, no dia 10, a temporada de Mané Pipoca, uma comédia que conta a história de um garoto que, como muitos de sua idade, ao buscar diversão, se coloca em situações perigosas. De maneira sutil, a peça ressalta a importância da preservação do meio ambiente e do diálogo entre amigos.

A outra opção para o público dessa faixa etária é o musical Dois Corações e Quatro Segredos. Nele, atores, bailarinos e músicos refazem a viagem do escritor Mário de Andrade pelo interior do país, conhecendo ritmos regionais. Logo no início desse trajeto, surge o drama que permeia todo o espetáculo – a história de Manuel, que, separado de sua amada Manuela pelo coronel Zé das Botas, precisa desvendar quatro segredos para reencontrá-la.

Ganhador do Troféu Gralha Azul, maior premiação do teatro paranaense, como melhor espetáculo para crianças, melhor texto e melhor direção, Surpresa entrou em cartaz no dia 16, e poderá ser visto pelo público acima de 3 anos. Usando o teatro de animação, a Cia. Manoel Kobachuk faz surgir de pequenas caixas histórias com personagens de contos de fada, circo e outros que encantam as crianças e aguçam sua curiosidade, fazendo brotar a expectativa sobre qual será a próxima surpresa.

Na zona leste, o Teatro Arthur Azevedo apresenta o texto consagrado de Ziraldo, O Menino Maluquinho, que comemora 25 anos de criação. A direção do espetáculo é de Fernando Lyra Júnior.

Serviço

Alice no Sítio do Lobato
Grupo Timol
Indicação: 8 anos
Onde: Auditório da Biblioteca Monteiro Lobato
Data: Quintas-feiras, às 15h30
Ingresso: Grátis

O Baú da Inspiração Perdida
Grupo Timol

Indicação: 8 anos
Onde: Auditório da Biblioteca Monteiro Lobato
Data: Segundas e quartas-feiras, às 15h30
Ingresso: Grátis

Oficinas de prática teatral
Grupo Timol

Coordenação: Roselaine Braz e Emilie Sugai
Quando: Sábados, das 14h às 17h30
Grátis

Dois Corações e Quatro Segredos
Cia da Tribo

Indicação: 5 anos
Onde: Centro Cultural São Paulo. Sala Jardel Filho
Quando: a partir do dia 9. Sábados e domingos, às 16 h
Ingresso: R$ 6

Surpresa. Cia. Manoel Kobachuk
Indicação: 3 a 8 anos
Onde: Centro Cultural São Paulo. Sala Paulo Emílio
Quando: a partir do dia 16. Sábados e domingos, às 16h
Ingresso: R$ 6
Dia 23, apresentação a preço popular: R$ 1,50

O Menino Maluquinho
Com João Miller, Fabricia Nivas e outros
Onde: Teatro Arthur Azevedo
Quando: de 2 a 24 de julho. Sábados e domingos, às 16h
Ingresso: R$ 6