Os Pescadores de Pérolas abre a temporada lírica de 2005 no Theatro Municipal

Com direção musical do maestro Jamil Maluf, atual diretor artístico do teatro, o espetáculo é uma remontagem da produção de 1995, assinada por Naum Alves de Souza, que marcou a estréia da obra em São Paulo.

O Theatro Municipal de São Paulo dá início à temporada lírica de 2005 com a ópera Os Pescadores de Pérolas, de Georges Bizet, no dia 02 de setembro. Com direção musical do maestro Jamil Maluf, atual diretor artístico do teatro, o espetáculo é uma remontagem da produção de 1995, assinada por Naum Alves de Souza, que marcou a estréia da obra em São Paulo.

A montagem é mais um passo da série “Ópera Estúdio”, criada pelo maestro em 1983 para trazer títulos pouco ou nunca executados no Municipal. Entre as muitas óperas já apresentadas no projeto estão A Flauta Mágica, Os Contos de Hoffman, O Chapéu de Palha de Florença e João e Maria.

Para viver os personagens principais de Os Pescadores de Pérolas, foram convidados alguns dos mais renomados cantores líricos do país: o tenor Fernando Portari, o soprano Cláudia Riccitelli e o barítono Sebastião Teixeira, que protagonizaram a ópera em 1995, além do baixo Luiz Ottavio Faria.

O Coral Paulistano, sob o comando da maestrina Mara Campos, e a Orquestra Experimental de Repertório completam o time de artistas. Até 10 de setembro serão cinco récitas, uma delas – a do dia 08 de setembro – com ingressos a preços populares.

A obra

Os Pescadores de Pérolas é a primeira das oito óperas escritas pelo francês Georges Bizet (1838-1875) – o compositor de Carmen – a ocupar um lugar de destaque no repertório dos teatros do mundo. Mas nem sempre foi assim. Após sua estréia, em 1863, em Paris, a obra teve poucas apresentações nas casas de ópera da Europa.

Uma versão, apresentada em 1886, trazia grandes alterações na música e no libreto e, em 1938, uma montagem do Teatro Scala de Milão trouxe novamente a atenção do público para a ópera. Em 1975, o musicólogo Arthur Hammond publicou uma nova versão da partitura, restaurando as intenções originais de Bizet. É assim que a obra será apresentada em São Paulo.

Os Pescadores de Pérolas faz parte da onda de valorização da cultura oriental, em voga na Europa na metade do século XIX. Recheada de elementos românticos como um amor proibido, uma amizade traída e desejos de vingança, a história criada pelos libretistas Michel Carré e Eugène Cormon divide-se em três atos e se passa no Ceilão, durante a Antigüidade.

A montagem

Criada na Central de Produção Chico Giacchieri, do Theatro Municipal, que foi inaugurada no dia 09 de agosto de 2005, a nova montagem de Os Pescadores de Pérolas tem como base a premiada produção de 1995, assinada por Naum Alves de Souza. Da experiência de dez anos atrás restaram apenas 30% dos figurinos e nenhuma peça dos cenários.

Novamente à frente da empreitada, Souza criou novos cenários, adereços e peças de roupas dentro da mesma estética, mas não idênticos aos anteriores. A idéia, segundo o diretor, não é reproduzir a primeira versão, mas criar uma nova. Segundo ele, porém, quem viu a ópera em 1995 certamente vai se lembrar de muita coisa.

De acordo com Souza, os cenários e figurinos de Os Pescadores de Pérolas criam a fantasia de um oriente imaginário. As cores, que têm muito destaque na cultura indiana, aparecem em profusão tanto nas vestes quanto na iluminação. Tudo, diz o diretor, contribui para a criação de um grande espetáculo, em que os cantores sobem pelos elevadores de cena, os cenários se movimentam e os deuses descem dos urdimentos.

A música

Embora tenha escrito Os Pescadores de Pérolas quando tinha apenas 25 anos de idade, Bizet conseguiu compor uma obra extremamente delicada, com poucos personagens e marcada por melodias que ganharam vida própria. Bons exemplos são o da ária do tenor, “Je crois entendre encore”, e de seu dueto com o barítono, “Au fon du temple saint”. A orquestração, muito elegante, está cheia de referências à musicalidade oriental tão em moda na época.

Momentos de grande emoção e de verdadeiras explosões musicais também aparecem na ópera. Outra característica marcante é o uso intensivo do canto coral, que preenche quase dois terços da partitura.

No plano vocal, Bizet construiu a sua ópera sobre o triângulo amoroso da história. Nadir, a quem cabem os números mais conhecidos da ópera (a ária e o dueto citados acima), é um autêntico tenor lírico, que deve cantar boa parte do tempo na tessitura aguda da voz. Leila deve ser interpretada por um soprano lírico com capacidade para executar floreios e coloraturas. Já Zurga cabe ao chamado barítono “Martin”, tipo de voz comum no repertório francês, com momentos de muito lirismo e facilidade também para as notas agudas.

A história

No primeiro ato, os pescadores escolhem Zurga (barítono) como rei e festejam a volta de Nadir (tenor) após uma longa ausência. Sozinhos, os dois comemoram o reencontro. Lembram-se do passado, quando sua forte amizade foi abalada pela disputa por uma desconhecida que viram de relance na cidade de Candy. Reconciliam-se, jurando esquecê-la.

O sacerdote Nourabad (baixo) traz à aldeia a sacerdotisa que, com o rosto coberto, deve rezar pelos pescadores do alto do penhasco enquanto estiverem no mar. Leila (soprano) e Nadir se reconhecem e, ao ficar só, o jovem evoca o amor que ainda sente por ela. Leila sobe ao rochedo e entoa uma oração a Brahma, enquanto o pescador jura protegê-la de todos os perigos.

O segundo ato acontece no templo em ruínas em que Leila permanece em vigília. Nourabad afirma que ela pode morrer se quebrar seu juramento de silêncio, mas ela o tranqüiliza. Conta que traz no peito um colar que recebeu há muito tempo de um fugitivo, por não revelar aos perseguidores onde ele se escondia. Sozinha, pensa em Nadir, e o pescador junta-se à sacerdotisa para confessar o seu amor.

Planejam um encontro para o dia seguinte, e ele vai embora. Nourabad, que presenciou a cena, acusa os dois de sacrilégio, e os guardas trazem Nadir preso. Zurga aparece para resolver a situação e decide perdoar o amigo. Quando o véu de Leila é arrancado, porém, o rei dos pescadores a reconhece e, cheio de ciúme, decide vingar-se pela traição.

O terceiro ato começa na cabana de Zurga, que lamenta o rompimento de sua amizade com Nadir. Leila chega e pede pelo amado, o que apenas aumenta o ódio de Zurga. Ele decide condená-los à morte, e Leila lhe dá seu colar, pedindo que o entregue à sua mãe. No local das execuções, os pescadores dançam em homenagem a Brahma.

Quando Nourabad traz Leila, um clarão ilumina a aldeia. Zurga aparece, anunciando que as casas estão em chamas. Quando todos saem para apagar o incêndio, ele conta que ateou fogo à aldeia para salvar Leila e Nadir. Libertando-os, ordena que fujam, não sem antes confessar à sacerdotisa que era ele o desconhecido que ela salvou da morte. Os amantes fogem e Zurga espera o retorno dos pescadores.