Orquestra Experimental de Repertório ganha uma casa nova

Depois de 15 anos de existência, a Orquestra Experimental de Repertório finalmente ganha uma sede adequada para a realização de seus ensaios.

São 18h30 na avenida São João, em frente à Igreja do Rosário. Dezenas de moças e rapazes, como em todas as segundas, quartas e quintas-feiras, chegam carregando os mais diversos tipos de instrumentos orquestrais e, adentrando a Galeria Olido, dirigem-se alegremente ao teatro, como se estivessem em sua própria casa.

E na verdade estão. Desde que, há pouco mais de dois meses, a Secretaria Municipal de Cultura autorizou a mudança, a Sala Olido passou a ser a nova sede da Orquestra Experimental de Repertório (OER).

“Foi uma luta de quinze anos”, informa o maestro Jamil Maluf, titular do grupo. “Formei a orquestra em 1990 e, por falta de melhores condições, tivemos que nos instalar numa sala improvisada no bairro da Bela Vista, em um lugar onde não deveríamos ter ficado nem quinze dias. A cada troca de prefeito e de secretário de cultura, procurávamos mostrar que o espaço era inadequado para a prática orquestral e pleiteávamos uma sede mais conveniente. Ouvimos muitas promessas, mas ficamos todo esse tempo na base do sacrifício, do heroísmo e do ‘amor à arte’. Durante esse período, apesar de tudo, conquistamos o reconhecimento da crítica especializada e do público em geral e nos transformamos em uma das orquestras mais respeitadas do país”.

Inferno e Céu

Na Bela Vista, a OER ensaiava em uma sala localizada nos fundos da Câmara Municipal, uma espécie de camarim coletivo, em meio a estruturas inacabadas do que viria a ser (e nunca foi) um teatro na rua Santo Amaro.

Naquele local, que agora começará a ser reestruturado, também dividia o terreno com um batalhão da Polícia Militar. “Comparando a atual com a sede antiga, podemos dizer que estamos no céu”, desabafa o chefe do naipe dos trombones João Paulo Manoel Moreira, que está na Orquestra desde seus primórdios.

“O lugar era abafado e o pé direito da sala era baixo, prejudicando a acústica. Quando fazia sol, a luz entrava pelas grandes janelas de vidro e caía direto sobre os instrumentos, atrapalhando a afinação. Imagine, então, quando tínhamos de ensaiar uma ópera! Além dos 93 instrumentistas, a sala era ainda ocupada com um coral de quase duzentas pessoas. Um inferno!”, continua o instrumentista.

Para a violoncelista Denise Piotto Ferrari, há quatro anos integrante do conjunto, o pior acontecia quando chovia.

“Havia goteiras e infiltrações e houve até ensaio que teve de ser cancelado porque a água e a umidade haviam comprometido parte da instalação elétrica. Agora não, aqui é um palco. A acústica é ótima e muito semelhante à do Municipal, onde geralmente nos apresentamos. Fecho os olhos e parece que tem gente na platéia. Estava cansada de ensaiar diante de uma parede”.

Uma questão de transporte

Thiago Ancelmo de Souza, que toca clarinete, ressalta uma outra vantagem da nova sede: a existência de camarins e espaços anexos, onde os naipes podem ensaiar independentemente do que está acontecendo no palco, fato que era muito difícil de se fazer na Bela Vista.

“E aqui estamos praticamente ao lado do Theatro Municipal, que é nossa segunda casa. Para os que tocam instrumentos maiores, talvez haja um pequeno inconveniente”, analisa o músico.

“Embora tenhamos estacionamento conveniado a três quadras daqui, como os ensaios começam às 7h, em virtude do trânsito, é preciso sair mais cedo para poder chegar a tempo. Como eu toco clarinete, não tenho esse problema. Meu instrumento é portátil e venho tranqüilamente de metrô. Melhor do que eu, só o flautista”, completa.

Não é o que acontece com Sérgio Luis Camilo Teixeira, que é tubista.

“Quem toca instrumento grande tem de ter carro e, no meu caso, também um pouquinho de força (cada um tem de tocar o instrumento que consegue carregar). Uma tuba pesa aproximadamente 13 quilos, mais seis de caixa, são quase vinte quilos. Não é para qualquer um. Mas, com o estacionamento aqui do lado, tudo ficou mais fácil. Estamos todos muito satisfeitos com a mudança e só temos a agradecer”.