Ópera de Bizet abre temporada no Municipal

Os Pescadores de Pérolas, montagem premiada da década de 90, marca a volta da temporada de óperas aos palcos do Theatro Municipal.

Foi com grande satisfação que a soprano Cláudia Riccitelli recebeu o convite para a remontagem de “Os Pescadores de Pérolas”, abrindo a Temporada Lírica de 2005, no Theatro Municipal de São Paulo.

Passados dez anos desde a primeira montagem, Riccitelli sobe ao palco para interpretar novamente o papel da sacerdotisa Leila, que em uma aldeia de pescadores à beira mar do Ceilão da antigüidade, vive uma história repleta de elementos românticos.

Formando um elenco bastante homogêneo, Cláudia divide a cena com outros dois solistas que participaram da primeira versão: o tenor Fernando Portari e o barítono Sebastião Teixeira.

Para Portari, é gratificante viver pela segunda vez o papel de Nadir, o pescador que se apaixona por Leila e por amor a ela enfrenta perigos e tabus. “Só tenho que comemorar aoportunidade”, afirma.

“Quando da primeira montagem, eu tinha 28 anos de idade e estava em início de carreira. O maestro Jamil Maluf apostou em minhas possibilidades, dando-me meu primeiro grande papel. Voltar agora é mostrar que a aposta deu certo”.

O tenor, que já cantou nos principais teatros da Europa, comenta as dificuldades próprias ao personagem Nadir. “Boa parte do que ele canta se situa na região aguda da voz, mas tem de ser cantada sem aparentar esforço, com suavidade. Além disso, é preciso dar credibilidade ao personagem. Para isso, ouvimos a música e, inconscientemente, entramos no ambiente onde a história se desenrola”.

Teixeira, que interpreta Zurga, amigo e depois rival de Nadir, concorda com o colega. “A música de Bizet dá todo o clima e nos induz a agir como os personagens”. O barítono diz ainda que o papel o faz sentir-se totalmente à vontade. “Como outros personagens da ópera francesa, é ideal para a minha voz”.

Luiz Ottavio Faria, que faz o papel de Nourabad, o grão-sacerdote de Brahma, é o único entre os quatro protagonistas que não participou da primeira versão. Entretanto, ele já cantou esse mesmo papel em 2002, no Carnegie Hall, nos Estados Unidos.

Com um registro vocal raro no Brasil, o de baixo profundo, Faria é formado pela Julliard School, de Nova York, cidade onde reside há 16 anos, tendo construído uma sólida carreira internacional.

Para ele, cantar no Theatro Municipal de São Paulo é um privilégio. “Estou maravilhado com esta montagem e só tenho uma coisa a reclamar de meu personagem, mas isso é com o compositor, que não escreveu nem uma ária solo para o Nourabad”.

O coro, que tem um papel significativo nesta ópera, está a cargo do Coral Paulistano, sob o comando da maestrina Mara Campos, e a parte instrumental, como na primeira versão, fica por conta da Orquestra Experimental de Repertório, regida pelo seu titular, o maestro Jamil Maluf.

A montagem

Naum Alves de Souza, que assinou a direção cênica, os cenários e os figurinos da produção de 1995, é também o responsável pela remontagem da obra. Apesar de se basear na estética anterior, criou novos cenários, adereços e peças de roupas.

“Na verdade”, diz ele, “não me sinto remontando e sim participando da aventura que é dirigir uma ópera. Tenho um especial carinho por ‘Os Pescadores de Pérolas’, principalmente pela música de Bizet, tão boa de se ouvir desde o prelúdio até as cenas célebres. A ópera tem árias que você sai cantarolando e momentos corais de tirar o fôlego”.

Souza conta que quer usar toda a maquinaria do teatro, tudo que a caixa do palco permite. “Vou usar os elevadores do palco, que trazem e levam cantores, cantoras, figurantes e artistas circenses. As peças do cenário também se movimentarão, quando, por exemplo, trouxerem os deuses pelos urdimentos. Tudo banhado por uma iluminação ora feérica, ora suave, e com muita cor”.

Por que uma remontagem?

A opção por remontar “Os Pescadores de Pérolas”, ao invés de iniciar a temporada lírica com uma produção inédita, foi proposital, conforme explica o diretor artístico do Theatro Municipal, o maestro Jamil Maluf, também responsável pela direção musical e regência do espetáculo.

“Abriremos a temporada de óperas deste ano com o primeiro trabalho da Central de Produção Chico Giacchieri, na Vila Guilherme, que foi inaugurada no mês passado. Esta remontagem constitui para nós um símbolo. Em 1995, conseguimos montá-la integralmente, contrariando o que era feito até então, quando tudo era importado. Mas, depois, por falta de condições de armazenamento, os cenários e mais de 70% dos figurinos se perderam. Agora, com a Central, tudo foi refeito e será devidamente conservado”, diz o maestro.

Ele lembra que, após a estréia, a ópera poderá ser remontada, “Na verdade, já estamos fazendo isso. Nossa realização de ‘Os Pescadores de Pérolas’ será utilizada pela ‘Fundação Clóvis Salgado’, de Belo Horizonte”.

O maestro continua: “Daqui para frente, a montagem de um repertório de óperas, a troca e o aluguel de produções serão a nossa política, como aliás já acontece nos grandes centros operísticos do mundo”.

Serviço

Os Pescadores de Pérolas

Ópera em três atos de Georges Bizet. Libreto de Michel Carré e Eugène Cormon. Com Fernando Portari, Cláudia Riccitelli, Sebastião Teixeira e Luiz Ottavio Faria. Orquestra Experimental de Repertório e Coral Paulistano. Direção musical: maestro Jamil Maluf. Direção cênica: Naum Alvez de Souza. Regência do coro: maestrina Mara Campos. Data: De 2 a 10/09 Local: Theatro Municipal de São Paulo – praça Ramos de Azevedo, s/nº, Centro Horário: Dias 02, 06, 08 e 10, às 20h30. Dia 04, às 17h Telefone: 222-8696 Ingressos: R$ 40, R$ 60 e R$ 80. No dia 8, ingressos a R$ 10, R$ 20 e R$ 30