James Meredith e seu exemplo para o Brasil

Ativista americano dá palestra na Coordenadoria do Negro.

Em sua segunda visita ao Brasil (a primeira foi em 2003), o norte-americano ativista pelos direitos civis da população negra, James Meredith, esteve na Secretaria de Participação e Parceria, em palestra na Coordenadoria dos Assuntos da População Negra (CONE) nesta sexta-feira (18/11).

Meredith trocou experiências em uma roda de discussões sobre políticas públicas para os afro-descendentes, e expressou opiniões bastante polêmicas. Ouviu algumas das ações nacionais para inserção social do negro, como o projeto etnicidades, a lei nº 10639 (que trata da obrigatoriedade do ensino da história da África nas escolas brasileiras), a discussão acerca das cotas para negros nas Universidades brasileiras, e comentou a situação do país, colocando o governo como promotor fundamental de uma mudança nesse âmbito.

Para o ativista, a questão educacional é fundamental. Comparando a situação do Brasil com a dos EUA, lembrou que seu pai fundou uma escola para negros há muitas décadas. Enquanto essa preocupação existe por lá há mais de 150 anos, por aqui ainda é uma questão recente.

Segundo Meredith, a "educação tem um papel fundamental na construção de uma identidade do povo negro, principalmente no Brasil, que teve os registros da escravidão destruídos pelo governo apenas em 1891".

Outro ponto ressaltado é o fato de o processo de exclusão não se restringir apenas aos negros. Ele atinge também os mestiços, que muitas vezes não têm essa consciência. "O Brasil só terá uma verdadeira mudança quando os mestiços perceberem que estão na mesma situação político-social dos negros", afirmou Meredith.

O papel da elite nacional também foi destacado pelo ativista americano, quando lembrou que só foi possível uma transformação efetiva na situação norte-americana quando os brancos ricos de Universidades como Harvard e Yale foram para o sul e exigiram essa mudança. James Meredith deixou a seguinte mensagem à população negra do Brasil: "Concentrem-se na questão da cidadania, porque aquilo que os não brancos do Brasil não têm são os direitos da cidadania".

Mário Cortês, responsável pela Coordenadoria dos Asssuntos da População Negra, qualificou a vinda de Meredith ao Brasil como um grande acontecimento, principalmente pelo fato "de ele ser, ao lado de Martin Luther King e de Rosa Park, um dos três maiores ativistas negros dos EUA, e o único ainda vivo".

O coordenador ressalta ainda que as características pós-abolição dos dois países são bastante distintas, já que, "enquanto nos EUA houve uma importante negociação de terras com os ex-escravos, e que muitos tiveram acesso à educação, o negro brasileiro foi expulso das terras de seu antigo senhor criando uma subcondição não muito diferente da escravidão, mas que a história de lutas de Meredith é um grande exemplo em qualquer realidade".

Quem é James Meredith

Na década de 60, um negro foi aceito pela Universidade do Mississipi, sem mencionar sua cor de pele. Descoberto, teve sua inscrição negada. Desde 1954, a segregação racial era ilegal em faculdades. Assim, dia 10 de outubro de 1962, depois de muitas batalhas judiciais, Meredith foi ao primeiro dia de aula. O governo americano enviou tropas federais, com trinta mil militares, mas ainda assim o dia acabou com revolta popular e duas mortes.

Em 1966, Meredith participou de uma passeata incentivando à inscrição de negros para votarem. Na caminhada de Memphis até Jackson havia quinze mil pessoas na luta. Ele levou um tiro na perna, porém, completou as 220 milhas. Hoje, com 72 anos, James Meredith é um símbolo na luta contra o racismo.