Professora recebe prêmio ao ensinar as crianças a contar histórias

Deborah da Silva, da EMEI Monte Belo, em Perus, participou da edição de 2005 do ''Prêmio Professor Nota 10'', da Fundação Victor Civita, e foi uma das dez professoras premiadas no País por sua contribuição à educação.

Existem muitas formas de se contar uma história. A professora Deborah Santos Soares da Silva escolheu a sua. Elegeu como apoio uma roda de crianças e uma simples caixa de papelão. Na roda, 35 entusiasmadas crianças de 4 anos e, na caixa, personagens interessantes.

A idéia agradou aos seus alunos, virou projeto - com o sugestivo nome de "Hoje quem conta a história sou eu" - e foi parar nas mãos dos organizadores da edição de 2005 do ''Prêmio Victor Civita Professor Nota 10''. Resultado: Deborah foi uma das dez professoras premiadas no país inteiro por sua contribuição à Educação.

A opção por contar histórias coletivamente, usando uma caixa de papelão como suporte, começou no início deste ano em uma sala abafada de madeirite da EMEI Monte Belo, em Perus (Zona Oeste). Deborah percebeu que as crianças tinham dificuldades em desencadear uma conversa ou fazer um relato. "Minha intenção era motivá-los", explica.

E conseguiu. A "Caixa de Histórias" é um cenário feito pelas próprias crianças com personagens desenhados também por eles mesmos a partir de histórias já existentes. As ferramentas são lápis de cor, giz de cera e caneta hidrográfica. Deborah orienta as crianças a produzirem os desenhos dos cenários e personagens.

Produção coletiva

Cada um recorta o que desenhou e depois, juntos, colam os personagens em palitos de sorvete e vão compondo os cenários. Encerra o dia "contando a história com os contadores junto ao cenário", conforme suas próprias palavras. "A mudança principal que senti nas crianças é que elas aprenderam que as histórias têm começo, meio e fim e que os relatos devem ser coerentes". E acrescenta: "Agora eles sabem a diferença entre uma história lida e uma contada".

As duas primeiras caixas - para contar a história de Chapeuzinho Vermelho e João e Maria - foram enviadas à Fundação Victor Civita. Uma terceira, guardada agora em uma nova sala de aula (recém-entregue, em alvenaria), foi feita para abrigar mais histórias. "Histórias infantis têm pontos em comum, como a existência de florestas, por exemplo. Agora, o que muda são os personagens. A caixa é a mesma", diz Deborah.

Brincadeira em família

No estágio atual, a caixa é mais um brinquedo que as crianças levam para casa para mostrar aos pais e irmãos e envolver toda a família nessa preciosa brincadeira de contar histórias. Com a simplicidade dos que se comportam como quem está sempre aprendendo, Deborah diz que se espanta quando fica sabendo que "as mães são as que mais se emocionam quando vêem seus filhos contarem uma história".

Contudo, essa jovem professora de 44 anos, formada em Pedagogia pela USP no final de 99, duas filhas adolescentes - Aryane, 20 e Lívia, 15 - dá a receita do seu trabalho. "Tento sentir o que eles precisam e como professora tenho obrigação de oferecer algo melhor do que eles encontram lá fora".

Para isso, conta com o apoio constante do marido, Ivan Soares. "Ele entende que, nessa profissão, a dedicação é integral e o professor trabalha também em casa".

Com a seleção para o prêmio, Deborah ganhou R$ 10 mil e livros das editoras Ática e Scipione. A entrega foi no dia 11 de outubro, no Teatro Abril, em São Paulo.

Valorizando o professor

Pelo oitavo ano consecutivo, a Fundação Victor Civita realiza o ''Prêmio Professor Nota 10''. Este ano, foram selecionados dez professores entre 3.423 inscritos que receberam o título de Professor Nota 10.

Com a missão de valorizar o professor e seu ofício, o Prêmio reconhece os trabalhos de maior destaque na educação brasileira. Os melhores projetos são selecionados por um corpo de jurados formado por sete educadores, que analisa cada um dos trabalhos e justifica a escolha.

Os projetos são escolhidos de acordo com seu grau de inovação e qualidade e pela capacidade de proporcionar uma aprendizagem efetiva. Além dos dez professores Nota 10, a Fundação ainda elege o Professor do Ano, o profissional cujo projeto despertou maior interesse entre os jurados. O prêmio é considerado o "Oscar" da educação brasileira.