Frans Krajcberg, artista da natureza brasileira, ganha Pavilhão no Ibirapuera

Frans Krajcberg fez de sua arte uma forma de denunciar os crimes ambientais. Utilizando como matéria-prima restos da natureza destruída – árvores queimadas, cipós, troncos calcinados – suas esculturas estão presentes hoje nos acervos de grandes museus, nacionais e internacionais, e são parte de um incansável trabalho de militância pela preservação do meio-ambiente.

No segundo semestre deste ano, São Paulo deve ganhar um espaço dedicado exclusivamente à exposição das obras desse artista polonês, naturalizado brasileiro. O prédio de uma antiga serraria no Parque Ibirapuera será requalificado para ceder lugar ao Pavilhão Krajcberg, uma grande galeria de arte dedicada às questões ambientais.  Cerca de 30 obras, das 40 que Krajcberg doou à Prefeitura de São Paulo, devem servir de alerta às novas gerações para o que o artista costuma chamar de “holocausto da natureza”. Trata-se, segundo ele, de uma guerra que não acabou: “Havia dias em que era tanta a fumaça que não conseguia ver a luz do sol. O cenário, aquela terra arrasada pela destruição, era o mesmo dos campos de batalha. E me perguntava que ser terrível era o homem, capaz de fazer aquilo. A arte foi minha maneira de reagir”, declarou em visita a uma floresta destruída.

Grande parte das peças que irão compor o pavilhão puderam ser vistas em 2005, em uma exposição organizada no Jardim de Bagatelle, em Paris, por ocasião do Ano do Brasil na França. A escolha de um parque para abrigar a coleção em São Paulo não foi involuntária: parte-se da idéia de estabelecer um contraste, emocional e intelectual, entre as obras torturadas de Krajcberg e a exuberância dos jardins do Ibirapuera. “O espaço escolhido dá uma concretude ao alerta do artista. Além disso, o convívio entre arte e meio-ambiente, em um mesmo espaço, é uma experiência que já testamos e que dá bastante certo”, explica o Secretário Municipal de Cultura.

Nos últimos anos, o artista ganhou duas importantes instituições dedicadas à exibição de suas obras: um Centro Cultural, no bairro de Montparnasse, em Paris, e uma grande galeria no Jardim Botânico de Curitiba, onde estão expostas mais de 100 esculturas. Com uma área construída de 750 m2, o Pavilhão Krajcberg do Parque Ibirapuera está localizado próximo ao viveiro Manequinho Lopes. Com a preocupação de preservar os pássaros que habitam o entorno, o projeto, concebido e realizado pelo Departamento de Patrimônio Histórico da Secretaria Municipal de Cultural, prevê a utilização de um vidro recoberto por uma película especial, para que se evite eventuais choques. Cercado por árvores e jardins, o prédio também terá preservado o vão do térreo livre, convidando os passantes a entrar e permitindo que os atuais freqüentadores do espaço – alunos de tai chu chuan e cadeirantes – continuem a utilizá-lo.

A partir de uma plataforma, na qual estarão dispostas as obras de dimensões maiores, o visitante terá acesso ao mezzanino, uma estrutura metálica leve que poderá ser instalada sem que sejam necessárias grandes obras de alvenaria. O procedimento deve simplificar bastante o processo de adaptação, reduzindo o tempo de duração da reforma e os custos. Neste andar, revestido apenas por uma parede de vidro, que protege as obras sem impedir a entrada de luz natural, estarão dispostas as esculturas do artista. Antes de conhecê-las, contudo, o visitante deverá passar por um processo de imersão na destruição para qual o artista tenta chamar a atenção, atravessando uma galeria em que recursos cenotécnicos serão utilizados para simular o som do crepitar do fogo e o cheiro de fumaça. Também nesse espaço, haverá uma exposição de fotografias e desenhos de Krajcberg e duas salas para projeção de documentários. O objetivo é que o local se consolide como um centro de referência e discussão sobre questões ecológicas.

A obra do futuro museu está orçada em R$ 2,5 milhões e a Secretaria Municipal de Cultura busca parcerias para viabilizar a iniciativa. O projeto contempla ainda a exposição a céu aberto de duas obras em bronze, a serem instaladas próximas ao pavilhão, e de uma grande escultura em concreto que ficaria em um dos portões de entrada do parque. 

Leia o projeto (arquivo PDF - 6.375 KB) e veja a animação (arquivo MPG - 14.773 KB)