Ay Carmela! Questiona limites da liberdade

Diante de situações-limite, de tortura ou ameaça, o que se deve fazer? Defender aquilo em que se acredita até o fim, arcando com todas as conseqüências, ou simplesmente admitir a impotência e restringir a luta ao campo do possível? Presente em tantos textos clássicos e situações históricas, o questionamento conduz Ay, Carmela!, peça do espanhol José Sanchis Sinisterra, que o diretor Marco Antônio Braz leva ao Centro Cultural da Juventude entre os dias 7 e 15.

Num pequeno palco vazio, vemos um casal de artistas mambembes en-saiando alguns esquetes. Em plena Guerra Civil Espanhola, foram capturados ao tentar atravessar a cidade para comprar comida e agora são obrigados a representar para divertir as tropas fascistas. O texto, que também já inspirou um filme de Carlos Saura, estreou em agosto no Instituto Cultural Capobianco e traz os atores da Velha Companhia, Maurício Marques e Virgínia Bukowski, interpretando Paulino e Carmela. A idéia de montar o espetáculo surgiu há alguns anos, durante uma conversa do grupo sobre princípios éticos, e acabou vingando quando o diretor se deu conta do caráter atemporal da peça. “Ela ultrapassa o contexto histórico no qual foi escrita”, diz. “Nesse sentido, o que nos aproximou do texto foi exatamente o fato de lidar com dois temas fundamentais na criação artística: amor e morte”.

Ao contrário de Saura, que resolveu contar a história de forma cronológica, Braz segue as indicações e rubricas do autor e já começa pelo assassinato de Carmela. A partir daí, a trama é apresentada em dois planos temporais que se revezam. Coagidos a homenagear os soldados franquistas, os protagonistas estão diante de um impasse: qual seria a forma correta de agir? Delineia-se, então, uma discussão sobre o indi-vidual e o coletivo, sobre a relação do homem com seu contexto políti-co. “No caso do texto, ele acontece durante a Guerra Civil Espanhola, mas poderia muito bem ocorrer durante o golpe militar de 1964. O plano da metáfora está presente e essa metáfora é fundamental nos dias de hoje, quando não sabemos discutir claramente qual é a função da arte e do artista na sociedade”, diz Braz.

Centro Cultural da Juventude– anfiteatro. De 7 a 15. 6ª, 19h30. Sáb., 18h30. Grátis