Filhos ouvintes de pais surdos são tema de palestra

Universo dos CODAs é apresentado dia 27 de fevereiro, na Praça das Bibliotecas


Por: Mariane Roccelo

Crescer em um universo bilíngue, em meio a duas formas diferentes de comunicação: a verbal e a não verbal. Essa é a realidade dos CODAs (Children of Deaf Adults), filhos ouvintes de pais surdos. No dia 27, o Centro Cultural São Paulo (CCSP) recebe a palestra “Eu CODA, você SURDO, ele OUVINTE”, com Andréa e Adriana Venancino, ambas bacharéis em Letras/Libras pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) e filhas, netas e sobrinhas de surdos. 

Adriana conta que sua primeira palavra foi dita em Libras (Língua Brasileira de Sinais). “Minha comunicação era por meio da Língua de Sinais. As poucas vezes em que me pronunciava oralmente, minha voz era como a do surdo. Só quando fui para a escola com 5 anos de idade é que, de repente, comecei a falar”. Para Andréa, o processo de aprendizagem foi natural para ambos os formatos de comunicação. “As duas línguas foram adquiridas e desenvolvidas pelo convívio com a família.” 

Segundo Adriana, para um CODA, o papel de mediação está presente a partir dos primeiros anos de vida. “Ser mediador desde criança é aprender como fazer escolhas linguísticas, sociais, administrativas e financeiras”. E completa, “é lidar com a responsabilidade sem saber do que se trata, responsabilidade essa que está intimamente ligada às regras e jogos sociais que nenhum ouvinte ou surdo compartilha com você.” 

A necessidade de difundir o ensino de Libras no país é acompanhada da importância de entender o que vai além dos sinais gesticulados. “O ensino e a difusão se tornaram banalizados, como um meio de se substituir a língua oral do país, sendo que a Libras vai além, ela se utiliza de outros recursos que a enriquecem muito mais”, diz Adriana. Já Andréa afirma que “a língua se perde nos cursos quando se coloca o indivíduo surdo com todas as suas peculiaridades culturais de lado”. Para ela, “existem cursos que fomentam os alunos com vocabulários, ensinam pilhas de sinais e esquecem de ensinar a forma como o surdo se comunica num mundo visual.”
A palestra pretende desmistificar preconceitos a respeito do universo dos CODAs e mostrar a importância da criança em compreender o contexto psicoemocional no qual é criada. Além disso, visa também incentivar pais surdos a se comunicarem de forma saudável com seus filhos, valorizando a linguagem e as características culturais da comunidade surda. 

Ainda dentro do tema da deficiência auditiva, no dia 12 de março, o CCSP promoverá a palestra “Surdez e a fruição da linguagem artística”, com Bruno Vital Alcântara dos Santos, surdo que possui fluência em Libras e na Língua Portuguesa.


Serviço
| Centro Cultural São Paulo – Espaço Mário Chamie (Praça das Bibliotecas). Centro. Dia 27, das 16h às 18h. Grátis (não é necessário retirar ingresso)