Texto de Nelson Rodrigues é encenado completamente no escuro

“Teatro Cego – O Grande Viúvo” chega aos teatros Alfredo Mesquita, Cacilda Becker e João Caetano em maio com apresentações gratuitas

 O teatro é uma arte que, embora utilize muito da comunicação verbal, se apoia com força no visual: o gestual dos atores, os figurinos, os cenários, os objetos de cena e até a iluminação do palco são elementos que comunicam ao público informações sobre os personagens. Mas, e se o diretor apagar todas as luzes? É o que acontece no espetáculo “Teatro Cego – O Grande Viúvo”, dirigido por Paulo Palado. Apresentada às escuras, do início ao fim, a peça obriga o espectador a usar os seus outros sentidos. Integrando o Circuito Municipal de Cultura, ela acontece gratuitamente em maio nos teatros Alfredo Mesquita, Cacilda Becker e João Caetano.

Inspirado no conto “O Grande Viúvo”, de Nelson Rodrigues, o espetáculo conta a história de um homem que acaba de perder a sua esposa. Ele comunica à família que ele irá se suicidar, após terminar de construir um mausoléu para ser enterrado ao lado da falecida. A família tem pouco tempo para convencê-lo a mudar de ideia.

Dos cinco atores em cena, três possuem deficiência visual. Os personagens, entretanto, são cegos de maneira metafórica. “É a cegueira de não enxergar a realidade ao seu redor”, conta Palado. Com o início da peça marcado pela fragilidade do protagonista, então a figura dominante da casa, a família deseja voltar a ser como era no passado, mas seus membros não perceberam que as relações entre eles mudaram. “Os personagens foram ficando cegos aos poucos, mas quando a visão volta, a realidade já não pode mais ser a mesma de antes”.

Sem o sentido da visão, o público é colocado no palco, onde pode sentir a presença do elenco atuando ao seu redor. Além da audição, primordial para a percepção espacial, sentidos como o olfato, com o cheiro de perfume ou do café da manhã, e o tato, com os respingos que imitam uma garoa, são acionados no público. “Quando você arranca os elementos visuais de uma peça, você tem o desafio de compor esses personagens de uma outra forma, ao mesmo tempo em que desafia o espectador a compreender esse espetáculo de outro modo”, conclui o diretor.

Por Gabriel Fabri

Serviço:
| Teatro Alfredo Mesquita.
Av. Santos Dumont, 1.770, Santana. Zona Norte. | tel. 2221-3657. Dia 2/05. Qua., 19h e 21h. Gratuito. 14 anos

| Teatro Cacilda Becker. Rua Tito, 295, Lapa. Zona Oeste. | tel. 3864-4513. Dia 8/05. Ter., 19h e 21h. Gratuito. 14 anos
| Teatro João Caetano. Rua Borges Lagoa, 650, Vila Clementino. Próximo da estação Santa Cruz do metrô. Zona Sul. | tel. 5573-3774. Dia 10/05. Qui., 19h e 21h. Gratuito. 14 anos