Ópera “La Traviata” abre a temporada lírica 2018 do Theatro Municipal

Espetáculo estreia dia 12 e conta com a participação da Cisne Negro Cia de Dança

Mesmo antes de abrirem as cortinas do teatro, La Traviata de Giuseppe Verdi, causa impacto ao apresentar um prelúdio executado apenas com instrumentos de corda. “Essa abertura é uma das mais singelas da história da música”, afirma o maestro Roberto Minczuk. “Ela apresenta uma das facetas da obra, que é o seu caráter mais intimista, mais reflexivo”.

O impacto não para por aí, pois logo no início do primeiro ato, o público é recebido com uma festa que traz uma das músicas de conjunto, com solistas e coro, mais famosas de todas as óperas: o Brindisi, quando os convidados da protagonista Violeta Valéry erguem suas taças para brindar o amor. Já, ao final do primeiro ato, há a ária Sempre Libera. “Ela reflete, de forma brilhante, a euforia da personagem principal e representa o seu êxtase emocional, um êxtase de prazer”, conta o maestro.

Trazendo os contrastes característicos da música de Verdi, com momentos de grande delicadeza e outros de muita força, La Traviata é um dos títulos mais conhecidos e adorados de todos os tempos. Nos últimos anos, inclusive, foi a ópera mais encenada no mundo, ultrapassando Carmen, de Bizet, e A Flauta Mágica, de Mozart.

Com direção cênica de Jorge Takla, a nova montagem estreia dia 12 no Theatro Municipal, abrindo a temporada lírica 2018. O espetáculo tem acompanhamento musical da Orquestra Sinfônica Municipal, sob regência de Roberto Minczuk, e conta com a participação do Coro Lírico e da Cisne Negro Cia. de Dança.

Violetta, a cortesã

Baseada no romance A Dama das Camélias, de Alexandre Dumas Filho, a ópera conta a história de Violetta, uma cortesã parisiense que recebe, em uma de suas festas, uma declaração de amor de Alfredo Germont, jovem de classe alta. Apaixonados, eles não podem ficar juntos por conta da pressão social, uma vez que as cortesãs eram vistas como amantes ou acompanhantes de luxo. O próprio título da ópera reafirma isso, já que traviata, em italiano, significa: “transviada, perdida”. Na história, indignado com o romance, o pai de Alfredo, Giorgio Germont, pede para que Violetta abandone o filho.

Jorge Takla decidiu ambientar a ópera em 1865 para poder retratar melhor esse universo das cortesãs. “É um momento muito típico da vida parisiense, no qual os artistas e a alta sociedade se reuniam nas casas dessas anfitriãs”, explica o diretor. Segundo Takla, elas eram financeiramente independentes e livres sexualmente. “Uma mulher poderosa era uma grande ameaça à sociedade naquele período”, afirma. Ele completa dizendo que uma pessoa como Violetta era uma afronta também aos sólidos núcleos familiares da época. “É um universo que não existe mais hoje, ela fazia parte de uma casta de mulheres que não se misturava com as famílias.”

Esta não é a primeira montagem de La Traviata dirigida por Takla. A anterior ocorreu no mesmo Municipal em 1996. Na época, ele tinha escolhido ambientar a ópera na Paris dos anos 1820. “Estou 20 anos mais velho, vejo uma outra essência na obra, escuto a música de forma diferente”, explica. O desafio, porém, continua o mesmo: manter o frescor do espetáculo, descobrir algo novo e emocionar as pessoas. “O trabalho é apresentar um grande clássico, que muitos já viram e reviram, sem cheiro de mofo ou de museu”, completa.

Dança em dois momentos

A Cisne Negro Cia. de Dança foi convidada para se apresentar em dois momentos da ópera. Coreografado por Dany Bittencourt, o grupo entra no segundo ato, na cena da festa de Flora, amiga de Violetta. Depois, retorna para a abertura do terceiro ato. No libreto original, está prevista a participação do primeiro balé, já a segunda é uma novidade desta montagem. “Nesse momento, os dançarinos farão uma intervenção dramática grande, será uma surpresa”, afirma Takla, que adianta tratar-se de um delírio da personagem principal.

Dany explica que, para cada entrada da Cisne Negro, há uma peculiaridade. “O segundo ato tem uma orquestra e um coro muito fortes, então a movimentação é alinhada a essa força”, afirma, ressaltando a cena em que ciganas e toureiros festejam. “Já no terceiro ato, a música pede um momento mais delicado.”

Esta é a segunda vez que Takla trabalha com a companhia de dança. A primeira foi em H.U.L.D.A, espetáculo de 2017 que celebrava os 40 anos do grupo e que percorreu os teatros municipais em abril passado. Dany conta que o processo de criação das coreografias para La Traviata iniciou-se a partir do encontro do diretor com ela e com os bailarinos. “Depois disso, fizemos exercícios teatrais para descobrir a movimentação adequada ao espetáculo”, conta. “Ele nos deu o universo da ópera e, a partir daí, começamos a desenvolver o trabalho”, conclui.

Por Gabriel Fabri

Apresentações
Theatro Municipal de São Paulo.
+10 anos. 2h30 (20 min de intervalo). Dias 12, 14, 16, 17, 18, 21 e 23, 20h. Dia 13, 18h. R$ 40 a R$ 150