Lama de rio simboliza pecado em peça sobre culpa e repressão

“Flores Vermelhas” fica em cartaz até o dia 15 de junho

 Uma lenda da cidade de São Luiz do Paraitinga, interior de São Paulo, serviu de inspiração para o espetáculo “Flores Vermelhas”, da Cia do Flores. “A mando de um padre, o local teria ficado anos sem o carnaval”, conta a diretora Claudia Jordão. “Ele dizia que essa festa profana poderia provocar a fúria divina e, assim, o rio transbordaria, destruindo a cidade toda”. Em cartaz no Centro Cultural São Paulo (CCSP) até o dia 15 de junho, a peça usa a imagem do rio como metáfora, e discute conceitos como sexualidade, culpa e pecado.

O espetáculo conta a história de dois irmãos muito unidos, cuja harmonia é quebrada quando um deles revela a sua verdadeira sexualidade. As tais flores vermelhas do título são um detalhe da peça: o pai dos garotos, Vicentino, troca as flores de um vaso semanalmente, para renovar o amor em família. “Mas a flor vermelha não dá conta apenas do amor, ela também é elemento que representa a dor, a morte, o sangue e a tragédia”, afirma a diretora.

Na peça, o rio simboliza tanto a vida quanto a morte. Coletando água em latas, cada personagem recebe certa quantidade de lama em seu recipiente. Essa terra molhada funciona como uma espécie de medidor de pecados de cada um. “Levando em consideração que, para muitas religiões, o rio é lugar em que se lava o corpo, purifica-se a alma e faz a pessoa renascer após o batismo, questionamos o quanto o rio tem em suas profundezas lamas pecadoras”, explica Claudia.

A ideia, entretanto, não é determinar ou julgar o que é pecado ou não. “Falamos sobre sexualidade, abordando a culpa imposta pela religião e o mal que esta culpa causa nas pessoas”, afirma a diretora. “Colocamos em pauta o que é pecado, o que as instituições religiosas pregam e como elas influenciam a sociedade a construir um pensamento conservador e preconceituoso”, conclui.

Por Gabriel Fabri

| CCSP. R. Vergueiro, 1.000, Paraíso. Próximo da estação Vergueiro do metrô. Centro. | tel. 3397-0001 e 3397-0002. De 8/5 a 15/6. 12 anos. R$20 (Exceto 30/5, Gratuito)