Sonhos de Salvador Dalí são levados ao palco no espetáculo “O Bigodudo”

Inspirada na vida e na obra do pintor surrealista, peça infantojuvenil chega ao Teatro Leopoldo Fróes e à Biblioteca Álvares de Azevedo

Após trazer o mundo de Tim Burton e Júlio Verne para os palcos teatrais, a Cia. Sabre de Luz se inspira na vida e na obra do pintor espanhol Salvador Dalí, o maior nome do surrealismo nas artes plásticas, para compor o espetáculo “O Bigodudo”. A peça chega ao Teatro Leopoldo Fróes, nos dias 2 e 3 de abril, e à Biblioteca Álvares de Azevedo, no dia 17.

A trama retrata a figura de Salvador Dalí desde quando começou a pintar, aos dez anos de idade. “Falamos sobre o nascimento de seu talento, os amigos que o influenciaram e a busca pela sua verdadeira identidade”, explica a diretora Joyce Salomão. Entre os personagens retratados, está o poeta espanhol García Lorca e o psicanalista Sigmund Freud – esse último está presente em cena como uma figura inanimada, feita com cadeira, gavetas e um caracol na cabeça, uma vez que Dalí chamava Freud de “caramujo”.

Questionada sobre como trazer para os palcos os “sonhos” de Dalí, que utilizava muito dessa falta de lógica dos sonhos para compor seus quadros, Joyce afirma que os devaneios do artista se misturam com os de toda a equipe. “Mas acho que Dalí não se importaria, pois ele buscava desconstruir a realidade. É o que fazemos, com muito bom humor”.

Para realizar essa desconstrução, a companhia optou por um cenário inspirado em obras do artista – algumas, inclusive, são reproduzidas em banners, como os quadros “Ovo Cósmico”, “A Persistência da Memória” e “Barco com Mariposas”. Há músicas clássicas, como trechos da ópera “Carmen”, de Bizet, e composições próprias de Gustavo Barcamor, integrante da companhia.

Joyce destaca também o uso de pequenos elementos em cena. “Um ovo se transforma em um sol, um casulo em uma borboleta gigante, e tudo vira obra de arte”, descreve. Através da dança e da mimese, o grupo tenta reproduzir nos palcos as sensações dos quadros de Dalí. “Ao observarmos uma de suas obras percebemos o movimento, são pessoas, nuvens, barcos, ondas do mar, relógios e formigas. O artista trata da transformação constante, do tempo, e o movimento se faz presente”.

A diretora acredita que a obra de Dalí dialoga bastante com o mundo infantil ao trabalhar com ideias mais lúdicas e abstratas. “A criança vai construindo seu universo na infância, costurando suas experimentações, e o fantástico do surrealismo é poder não descartar o que a princípio nos parece exagerado, desnecessário ou desconstruído”, explica. Segundo Joyce, quando não se determina o que é relevante ou irrelevante para a criança, seu “acervo de ideias” se torna mais rico e criativo. “O surrealismo nos mostra que todos os sentimentos devem ser respeitados, seja ele um sonho ‘impossível’ ou um medo ‘insuperável’”, completa.

Ela ainda afirma que o desafio em montar esse espetáculo é justamente levar questionamentos psicológicos como “o que existe dentro da minha cabeça?” para os palcos. “Mas a criança se apropria com facilidade do surrealismo, pois ele cabe em suas primeiras experimentações cognitivas, ela pensa como ele, de maneira fragmentada, cheia de dúvidas e sonhos. Nesse sentido, elas nos ensinam, e assim vamos brincando”, declara a diretora.

Por Gabriel Fabri

Serviço: | Teatro Municipal Leopoldo Fróes. Rua Antonio Bandeira 114. Zona Sul. | tel. 5541 7057. Dias 2 e 3, 16h
| Biblioteca Pública Álvares Azevedo. Pça Joaquim José da Nova, s/nº, Vila Maria. Zona Norte. | tel. 2954-2813. Dia 17, 11h
| Livre. 45min. Grátis