Espetáculo imersivo reproduz uma balada para discutir conflitos da adolescência e intolerância

“Fortes Batidas” chega em maio ao Centro de Formação Cultural de Cidade Tiradentes e ao Centro Cultural da Juventude e promove interação entre público e atores

A chamada “quarta parede”, linha imaginária que separa os atores do público em um palco tradicional, é frequentemente quebrada para permitir maior envolvimento entre esses dois grupos. Essa linha, entretanto, sequer existe no teatro de imersão: como o próprio nome já diz, o espectador estará imerso no espetáculo, sendo parte dele. Com direção de Pedro Granato, “Fortes Batidas” insere os atores e a plateia em um mesmo ambiente: uma balada. As apresentações acontecem entre os dias 6 e 8 de maio, no Centro de Formação Cultural de Cidade Tiradentes, e entre os dias 13 e 15, no Centro Cultural da Juventude (CCJ).

 “É um espetáculo muito interativo”, explica Granato. “As cenas vão acontecendo no meio da plateia e o tempo todo o público interage com elas”. A ideia é reproduzir o ambiente de balada de modo que não haja muita distinção entre os atores e os espectadores – todos são personagens nessa festa. “Tudo o que pode acontecer numa balada pode acontecer ali”. Se pintar um clima, pode até rolar beijo. “Se o público quiser beijar, eles beijam”, afirma o diretor. “A gente não dá muita importância para essa questão, é algo que surge naturalmente, pois os atores agem como se estivessem numa festa”.

Ao todo, são 15 atores jovens em cena. Todos contribuíram com relatos pessoais para compor as situações do espetáculo – por isso, temas que vão desde a autodescoberta, com o primeiro beijo gay, a episódios de machismo e homofobia, são trabalhados no espetáculo. “São muitas falas que remetem a coisas que vivemos”, revela o diretor. “Um dos atores, chamado Ariel, nos contou que sempre era chamado de Pequena Sereia, e nós incorporamos essa brincadeira na peça”, exemplifica, fazendo referência à personagem dos contos infantis. Granado conta também uma experiência pessoal: “Quando era jovem, tinha um pouco de pânico em algumas baladas, me sentia deslocado. Há personagens assim”, afirma. “O espetáculo apresenta uma grande quantidade de visões diferentes”.

Granado acredita que a balada de “Fortes Batidas” é um ambiente mais tolerante, uma festa mais ou menos do jeito que ele gostaria que fosse. Não é um local completamente idealizado. Há, inclusive, uma cena que remete ao caso do jovem gay agredido com uma lâmpada na Avenida Paulista, por exemplo. O diretor considera que a peça retrata os avanços da tolerância em setores da sociedade, especialmente entre os jovens, o que reflete em um padrão sexual mais libertário e aberto a experimentações. Entretanto, ele lamenta que ocorra, por outro lado, uma escalada de intolerância em outros setores. “Ao mesmo tempo em que os movimentos feminista e o LGBT avançam, o discurso reacionário fica cada dia mais violento”, conclui. Tudo isso é retratado na peça, que tenta aproximar o público jovem das artes cênicas, trazendo o teatro para dentro da balada, e vice-versa.

Por Gabriel Fabri

Serviço: | Centro de Formação Cultural de Cidade Tiradentes. R. Inácio Monteiro, altura do nº 6.900, esq. com Rua Alexandre Davidenko, Cidade Tiradentes. Zona Leste. | tel.: 2555-2840. Dias 6 e 7, 20h. Dia 8, 19h
| Centro Cultural da Juventude – anfiteatro. Av. Deputado Emílio Carlos, 3.641, Vila Nova Cachoeirinha. Próximo do Terminal de Ônibus Cachoeirinha. Zona Norte. | tel. 3984-2466. Dia 13, 20h. Dia 14, 19h. Dia 15, 17h
| Grátis