Espetáculo Infantil explora temática budista

Adaptação do livro Daisaku Ikeda, “O menino e a cerejeira” estreia dia 2, no Teatro João Caetano

 Entre o fim de março e o início de maio, o Japão assiste a um fenômeno natural e cultural de extrema beleza. Nessa época, que coincide com o fim do inverno e o início da primavera, as cerejeiras, ou sakura, voltam a florescer. Dizem os historiadores que há mais de mil anos acontecem as cerimônias de contemplação desse fenômeno, o hanami, costume preservado até os dias de hoje. As cerejeiras simbolizam a renovação e a esperança, assim como a efemeridade da vida, já que suas flores duram pouco tempo.

O simbolismo dessa árvore é o norteador de “O menino e a cerejeira”, espetáculo infantil que estreia dia 2, no Teatro Municipal João Caetano. A encenação, dirigida por Stella Tobar, conta a história de Taiti, um menino que, após a morte do pai durante a guerra, vive com a mãe em uma cidade devastada pelo bombardeio. Contudo, por meio da amizade com um senhor que cuida da única cerejeira sobrevivente, ele transforma sua condição de vida e de todos da aldeia, ao aprender a importância de se tomar decisões para ser feliz.

A peça é uma adaptação do livro de mesmo nome, do escritor e filósofo budista Daisaku Ikeda, atual presidente da Soka Gakkai International (SGI), uma das maiores organizações budistas nishiren do mundo. Esta é a primeira vez que uma adaptação desta obra –e do autor– é realizada em teatro. “Budista há 13 anos, eu lia esta história para minha filha e até hoje ela me emociona muito por conta dos conceitos que estão implícitos: determinação e coragem para vencer as dificuldades, pois o inverno sempre se transforma em primavera, ou seja, as circunstâncias ruins da vida têm que nos tornar mais grandiosos, e não derrotados”, conta Stella.

Apesar de fazer referência à cultura japonesa nos cenários, figurinos e trilha sonora, assim como o pano de fundo do pós-guerra, a diretora diz que a história tem uma temática universal. “Creio que a associação com a miséria de muitas regiões, bem como com crianças que crescem sem pai, pode ser imediata. As referências são japonesas, mas os sentimentos são do ser humano em qualquer lugar do planeta”, reflete. Segundo ela, a abordagem filosófica budista não é um empecilho para o entendimento da criança. “Temas mais abstratos como esperança e determinação para vencer qualquer dificuldade e criar um estado de vida forte e amplo –assuntos abordados na peça– podem ser entendidos e sentidos pelas crianças de maneira profunda, sim. A criança já é alguém com pensamentos, opiniões, personalidade e visão de mundo”, conclui.

Por Luísa Bittencourt

| Teatro Municipal João Caetano. R. Borges Lagoa, 650, Vila Clementino. Próximo da estação Santa Cruz do Metrô. Zona Sul. Tel. 5573-3774. De 2 a 23. Sáb. e dom., 16h. No dia 23, haverá uma sessão extra às 17h30. Grátis (retirar ingresso a partir de uma hora antes)