A maternidade é o sonho de muitas mulheres que, por meio dela, buscam a realização plena da condição feminina. Ela é geradora e representa o movimento constante da sucessão da humanidade. A maternidade pode, contudo, trazer um universo de conflitos e dores. Em “Um berço de pedra”, peça que estreia dia 30, no Centro Cultural São Paulo, o dramaturgo Newton Moreno e o diretor William Pereira exploram, em um espetáculo com formato de poema-cênico, gritos de mães que, ao perderem ou defenderem seus filhos, fraturam o mundo pelo seu amor.

Contundente, a montagem é uma coletânea de cinco textos de Moreno, escritos em momentos e locais diferentes, transformados em cinco cenas. O palco é coberto de areia para se metamorfosear em deserto, jardim e prisão, acrescentado de projeções que estabelecem diálogo com a ação dramática.

No primeiro texto, “Canteiro”, em um jardim, trava-se o embate entre duas mulheres: uma que busca o filho desaparecido durante a ditadura militar e a outra, esposa de um general que enterrava suas vítimas nesse local. Em seguida, “O caminho do milagre” mostra um diálogo entre um presidiário e sua vítima de estupro, grávida, refletindo sobre o encontro da bênção e da maldição no mesmo ato violento.

Em uma releitura da tragédia grega “Medeia”, de Eurípedes, o terceiro texto, de mesmo nome, tem como cenário uma prisão. Nele, a personagem título é uma presidiária condenada por infanticídio. A próxima narrativa, “Um berço de pedra”, é um poema sobre a condição da mulher em áreas de conflito, que tanto poderia ser a Faixa de Gaza ou a periferia de uma grande metrópole brasileira. A última cena, “Trafego”, é um epílogo poético e doloroso sobre uma mãe que vende seu filho em um semáforo.

Articuladas como em um cordão umbilical, essas histórias intercalam épocas, mitologias, espaços com um caráter lírico e, como em uma ópera, propõem uma convergência de linguagens na construção do espetáculo.
Primeira parceria entre Pereira, Moreno e o produtor Leopoldo De Léo Junior, o espetáculo reúne no elenco Miriam Mehler, Cristina Cavalcanti, Luciana Lyra, Debora Duboc, Lilian Blanc e Eucir de Souza.

| Luísa Bittencourt

| +16 anos. Centro Cultural São Paulo – Sala Jardel Filho. Centro. De 30/9 a 6/11. 6ª e sáb., 21h. Dom., 20h. Dia 7/10, 20h (apresentação especial). R$ 20