Espetáculo “O Corpo que o Rio Levou” reflete sobre as consequências da ditadura

Com direção de Diego Moschkovich, peça estreia no dia 4 de março no Centro Cultural São Paulo

 O espetáculo “O Corpo que o Rio Levou”, que estreia no dia 4 de março, no Centro Cultural São Paulo, propõe uma reflexão sobre as consequências da ditadura civil-militar brasileira, que durou de 1964 a 1985. Em cartaz até 10 de abril, o texto escrito por Ave Terrena, em conjunto com os atores e atrizes do Laboratório de Técnica Dramática (LABTD), tem como proposta apresentar um espetáculo baseado na dramaturgia muralista. Esse conceito, desenvolvido por Oswald de Andrade, consiste em trazer para a montagem diversos pontos de vista sobre uma mesma realidade, formando um mural, e tendo como referência obras de pintores mexicanos como David Alfaro Siqueiros e Diego Rivera.

Ganhador da 4ª Edição do Prêmio Zé Renato de Teatro, da Secretaria Municipal de Cultura, a montagem conta a história de um casal que vive no Brasil de 2020, dominado por disputas políticas. Elza, uma atriz alheia ao conservadorismo da época, se dedica a um teste para a peça “Ofélia Latina”, uma adaptação de “Hamlet”, de William Shakespeare. No entanto, seu marido é chamado para depor na delegacia, onde é assassinado e torturado. Elza passa a procurá-lo e a viver as novas represálias do governo ditador.

Com direção de Diego Moschkovich, a peça tem como proposta criar uma reflexão sobre a permanência e a duração de certos resquícios da ditadura brasileira, como os sentimentos de falta de liberdade, de expressão e a não-punição dos crimes cometidos. Apesar da peça retratar uma realidade futurística, é por meio das formas de agressões baseadas nos manuais de tortura das Forças Armadas das décadas de 60 e 70, que a crítica é feita. Para recriar as técnicas de interrogatório aplicadas pelos oficiais do Exército, um locutor de rádio as descreve como se fosse um jogo de futebol. Assim, a montagem busca trazer à memória as consequências políticas que o regime militar provocou na sociedade e que deixou marcas até hoje.

Por Bruna Pinheiro