Espetáculo atualiza clássico de Arthur Miller

Inspirado em “As Bruxas de Salém”, novo trabalho da Cia. Ato Reverso fica em cartaz entre dias 25 de março e 16 de abril, no Centro Cultural Tendal da Lapa

 Com uma trama que transita pela obra “As Bruxas de Salém”, de Arthur Miller, e a tensa realidade diante da polarização política que divide o Brasil atualmente, a Cia. Ato Reverso estreia dia 25 de março, no Centro Cultural Tendal da Lapa, “Abigail Williams ou De Onde Surge o Ódio?”.

Com direção de Nathália Bonilha e dramaturgia de Vinicius Garcia Pires, a peça conta a história de uma adolescente que vive em um pequeno povoado protestante, onde as rígidas regras de convivência a impossibilitam de viver um amor e desenvolver-se plenamente como ser humano. Oprimida por um fundamentalismo moral e religioso cego, a jovem consegue rachar o sistema e, amparada pelo fanatismo local, lidera um expurgo coletivo de caça às bruxas instaurada na cidade S-S, uma mistura de Salém e São Paulo.

O local transita entre a modernidade e a tradição, de tal modo que as vozes dos personagens partem das configurações rígidas da moral religiosa, como em Salém, mas se misturam às vozes de ódio ecoadas das mídias sociais e dos meios de comunicação, em São Paulo.

“O espetáculo pretende questionar junto aos espectadores: De onde nasce o ódio? Como se propaga uma situação de ódio coletivizado? Quais são as bruxas que perseguimos hoje, com os discursos de ódio disseminados e pulverizados em nosso cotidiano?”, conta a diretora Nathália Bonilha, que também está no elenco. Por ser a principal líder das acusações, Abigail trilha um caminho de ascensão social. “Ela poderia revolucionar a cidade, mas pelo contrário, adere à estrutura para fins pessoais, disparando uma série de acusações e condenações públicas. De figura excluída e estigmatizada, ela se torna a figura central das acusações, construindo uma voz que é praticamente inquestionável dentro da cidade. Entendemos que problematizar essa reviravolta é da maior importância”, conclui.

A encenação traz como elementos a música ao vivo conduzida por violoncelo, percussão e violão; o uso de projeções e um cenário que se transmuta em múltiplas configurações. As cenas acontecem em diversos ambientes, variando desde uma floresta até uma igreja evangélica, traçando um paralelo com o fundamentalismo do povoado protestante do século 16.

Por Luiz Quesada

Serviço: | +14 anos. Centro Cultural Tendal da Lapa. Zona Oeste. De 25 de março a 16 de abril. Sáb., às 20h. Dom., às 19h. Grátis