Exposição fotográfica retrata etnias indígenas brasileiras

Renato Soares inaugura “A invasão do Brasil” dia 14, na Biblioteca Alceu Amoroso Lima

O fotógrafo e documentarista indigenista Renato Soares inaugura a exposição “A invasão do Brasil”, no próximo dia 14 de abril, na Biblioteca Alceu Amoroso Lima. A mostra traz 14 imagens de diversas etnias indígenas, traçando um painel contextualizado dos povos originários do nosso país.

A exposição tem como objetivo mostrar a diversidade étnica de um Brasil a ser descoberto ao público e traçar a cultura ancestral destes povos que aqui viviam antes da chegada dos primeiros europeus. As imagens trazem o índio ocupando espaços e, de certo modo, retomando seu território por meio das ampliações fotográficas. São retratadas desde a dança do Toré, dos Pankararu, às flautas Uruá do Alto Xingu e os cantos no pátio circular das aldeias Krahô. Da conversa em torno da fogueira aos rituais fúnebres dos Bororo Orientais e aos ritos femininos das Yamurikumã.

A mostra integra o Projeto Ameríndios do Brasil, dedicado ao registro fotográfico da diversidade cultural indígena existente em território nacional, realizado por Renato. Segundo dados do IBGE (2010), existem atualmente no país 305 tribos, que falam mais de 270 diferentes línguas. A abertura da mostra contará com a presença de Renato Soares, que participará de uma palestra com o público.

Confira entrevista com Renato Soares

Em Cartaz: Quando você começou a explorar a temática indigenista na fotografia e o que te fez chegar a ela?
Renato Soares: O índio toma conta da minha vida desde antes de eu ser fotógrafo – e eu fotografo há 30 anos. O índio já fazia parte dos meus sonhos quando eu comecei a fotografar. Quando eu percebi, estava fazendo isso há tempos. Já lancei livros e fiz outras exposições, mas hoje só fotografo índios, parei de fotografar outros temas.

Em Cartaz: Como são suas experiências com eles? Quanto tempo passa convivendo com essas tribos para realizar o seu trabalho?
Renato Soares: Já cheguei a ficar até 1 ano com eles. Cada viagem dura de 3 a 4 meses, para cada grupo que eu trabalho. A recepção é sempre muito boa. E surgiu uma certa fofoca de que eu sou o único fotógrafo que paga os índios (eu tenho contrato com eles) e eles passam a me convidar.

Em Cartaz: Qual a importância de vivermos em um Estado com uma diversidade de grupos étnicos como o Brasil?
Renato Soares: Acho que o Brasil é o país que tem a maior diversidade étnica do mundo. São 305 etnias e 274 línguas, ou seja, é de uma importância imensurável. O maior problema é que o Brasil não se reconhece como índio. Foi feito um levantamento da consanguinidade do brasileiro e o resultado foi de que 70% tem a consanguinidade indígena, nem europeia, nem chinesa, nem outra. O brasileiro não se reconhece como índio, ele tem vergonha. Mas na verdade isso é um honra.

Em Cartaz: Em que medida os índios estão sendo afetados pela “civilização” hoje em dia?
Renato Soares: Temos invasões diversas, desde Belo Monte até o problema de demarcação de terras. O que é mais grave é a maneira como eles vêm sendo tratados. Querem tirar mais e mais do índio, como se eles tivessem muito. O lado bom é que os grandes parques nacionais e as reservas indígenas são as áreas mais preservadas do Brasil, e quem cuida são eles. Eles têm uma fauna e uma flora muito grande.

Em Cartaz: Porque o nome “A Invasão do Brasil”?
Renato Soares: É uma analogia aos 500 anos de invasão, mas são os índios invadindo os espaços públicos brasileiros, começando pelas bibliotecas de São Paulo. A ideia não é fazer grandes exposições em galerias, é começar por áreas públicas, indo para as periferias, podendo invadir a cabeça das pessoas e mostrar que existem personagens – que chamamos de índio –, que têm família. São os índios reinvandindo os espaços públicos, mostrando o que eles têm de mais lúdico, não uma invasão agressiva, mas uma invasão poética.

Em Cartaz: Qual a ideia do Projeto Ameríndios do Brasil?
Renato Soares: O projeto é a documentação das 305 etnias brasileiras em todo o território nacional, desde o Amazonas, Pará e Mato Grosso, até o Paraná. Estou fazendo, construindo. É um trabalho de uma vida. De todo o trabalho que eu vendo, 30% vai para os índios. É uma forma de reconhecer o direito de uso da imagem deles, fazendo com que a fotografia passe a ter um valor agregado. Quando a fotografia passa a ter esse valor agregado, ela tem atuação social, porque ajuda as comunidades.

Serviço: A invasão do Brasil – Renato Soares. Biblioteca Alceu Amoroso Lima. Av. Henrique Schaumann, 777, Pinheiros. Próximo da Praça Benedito Calixto. Zona Oeste. Tel. 3082-5023. Abertura: dia 14, 19h. De 14 a 23/04. 2ª a 6ª, das 10h às 19h. Sáb., das 9h às 16h. Livre. Grátis