Filmes mudos de terror ganham acompanhamento musical nas bibliotecas públicas

“Frankenstein”, de James Whale, e “A Carruagem Fantasma”, de Victor Sjöström, são exibidos em maio nas Bibliotecas Mário Schenberg e Viriato Corrêa, respectivamente

Dois clássicos do cinema mudo ganham trilha sonora ao vivo no mês de maio, em duas bibliotecas públicas. Dia 6, na Mário Schenberg, o filme “Frankenstein”, de James Whale, ganha acompanhamento musical de Marcio Barreto. Já no dia 14, “A Carruagem Fantasma”, de Victor Sjöström, é exibido na Viriato Corrêa com acompanhamento de Daniel Nakamura e Fabio Tagliaferri. As sessões são gratuitas e integram a programação do Circuito Municipal de Cultura.

Clássico de terror dos estúdios Universal, “Frankenstein” foi o primeiro sucesso do ator Boris Karloff, que interpretou o monstro criado por Mary Shelley. O filme atingiu a maior bilheteria do ano de 1931 nos EUA e rendeu duas continuações, também estreladas por Karloff: “A Noiva de Frankenstein” (1935) e “O Filho de Frankenstein” (1939).

Para o músico Márcio Barreto, o maior desafio para fazer a trilha desse longa-metragem é encontrar o ponto de convergência entre o filme e suas concepções musicais, que unem trompete, música eletrônica e de instrumentos confeccionados por ele mesmo. A ideia é que a música dialogue com um realismo “retrofuturista” – um diálogo por meio de improvisações entre o momento de agora e o passado que o longa-metragem carrega. “De certo modo, é a tentativa de unir o ancestral ao contemporâneo, o primitivo e o tribal ao som das máquinas e computadores”, explica.

Márcio revela que procurou acentuar com a música a tensão crescente no filme entre “ciência, ética e o desejo primitivo de fugir à morte”. Para isso, ele se preocupou com a busca de momentos em que poderia interagir com o longa-metragem e modificar a percepção do público. “A procura pelo ruído, pelos silêncios e paisagens que possam ressignificar a forma e a sua fruição, como um cinema invisível, um filme dentro do filme”, afirma o músico.

Já “A Carruagem Fantasma” é um filme sueco de 1921, em que o diretor Victor Sjöström interpreta um homem condenado por uma maldição: segundo uma lenda urbana, a última pessoa a morrer na noite de ano novo, se for uma pecadora, terá que passar todo o ano seguinte dirigindo uma carruagem fantasma que pega as almas dos mortos. Esse longa-metragem foi uma grande influência para o cineasta sueco Ingmar Bergman, que mais de três décadas depois trataria do tema da morte em “O Sétimo Selo”. Para Bergman, “A Carruagem Fantasma” era “o filme dos filmes”.

Para Daniel Nakamura, a principal preocupação ao fazer uma trilha para “A Carruagem Fantasma” é não tirar a atenção do público do longa-metragem. “A trilha deve ser um elemento do filme e não uma coisa à parte, ou só uma música de fundo”, explica. “A ideia é que ela entre em harmonia com as cenas para valorizá-las, mantendo o filme como personagem principal”. Para criar esse acompanhamento, Nakamura e Tagliaferri usam guitarra, viola de arco, ukelele e música eletrônica.

Nakamura acredita que filmes de fantasmas nunca deixam de ser atuais, por conta do mistério envolvido com a questão da vida após a morte. Ele ressalta, porém, um diferencial do longa-metragem de Sjöström: “Neste filme, é bem interessante o efeito usado para simular os fantasmas, coisa que era bem moderna para a época”, conclui.

| Por Gabriel Fabri