Cinema experimental argentino é tema de mostra no CCSP

“Cine Sin Limites” traz curtas de Claudio Caldini, Jorge Honik e Narcisa Hirsch a partir de 4 de maio

Três cineastas referências do chamado cinema experimental argentino ganham uma retrospectiva completa no Centro Cultural São Paulo (CCSP), entre os dias 4 e 14 de maio. A Mostra “Cine Sin Limites” traz produções de Claudio Caldini, Jorge Honik e Narcisa Hirsch, realizadores em atuação desde os anos 1960 e 1970. Com curadoria de Aaron Cutler e Mariana Shellard, a mostra é composta por 11 programas de curtas-metragens argentinos e por uma série de debates, entre eles um com a presença dos três diretores, no dia 7.

“Esses cineastas são uma referência estética com uma forte presença social, e é fácil dizer que seus filmes, atualmente, circulam mais do que os de qualquer outro artista da época”, afirma Mariana. “Eles representam a fundação do cinema experimental argentino e continuam produzindo e discutindo as suas obras”. No seu surgimento, no final dos anos 1960, o cinema experimental dividia a cena com o underground – enquanto o último trabalhava mais com temas políticos, e no combate à ditadura militar do país, o primeiro tinha a estética como foco. “Caldini, Hirsch e Honik seguiam a tendência de abordar questões mais pessoais e ontológicas por meio de explorações técnicas do material e de processos de edição”, explica a curadora. A política não deixa de estar presente nessas obras, mas de maneiras mais sutis, como no curta performático “Marabunta” (1967), de Hirsch, que registrou uma cerimônia em torno de um esqueleto de seis metros e recheado de pombas vivas.

Além do uso dos formatos de película Super-8 e 8mm, a filmografia desses cineastas possui outros pontos em comum. “Em essência, a obra dos três explora, através de jornadas por paisagens bucólicas, questões sobre a espiritualidade do indivíduo imerso em seu meio”, explica Cutler. O curador exemplifica: os filmes de Caldini utilizam a luz e os movimentos da câmera para tentar atingir uma “projeção metafísica” em registros da natureza; Hirsch representa a si mesma em diversos contextos, buscando ir além do mundano; e, por fim, Honik se desloca pelo mundo, buscando exercer uma liberdade estética em seus registros.

Destacando a qualidade onírica e as paisagens idílicas dos filmes como um traço do temperamento argentino, Mariana enxerga nos curtas a presença de um traço identificado nas obras como Borges, Cortázar e Gelman. Para a curadora, nos livros desses autores o espaço entre as palavras ganha importância uma vez que essas não são suficientes para descrever o que vai além da visão e da escuta. “Nos filmes, esse espaço entre palavras se converte em espaço entre imagens”, explica. “É uma sensação sutil que carrega o peso da mortalidade e projeta a leveza do espírito”.

Por Gabriel Fabri