Mostra de cinema sul-coreano explora temática da vingança

“A Criada”, de Chan-Wook Park, e “O Lamento”, de Hong-jin Na, estão entre os destaques da programação, que acontece entre os dias 15 e 20 de agosto, no CCSP

Uma vertente importante da filmografia da Coreia do Sul é o cinema de vingança, que engloba diversos gêneros, como ação e terror. Em parceria com o Consulado Geral da República da Coreia e com o Centro Cultural Coreano no Brasil, o Centro Cultural São Paulo (CCSP) traz filmes de grandes diretores para a mostra “Vingança: o novo cinema coreano”. Entre os dias 15 e 20 de agosto, são exibidas obras de cineastas consagrados como Hong-jin Na (“O Lamento”) e Chan-Wook Park (“A Criada”).

Para entender porquê a vingança se tornou um tema recorrente na filmografia sul-coreana, o curador Carlos Gabriel Pegoraro afirma ser necessário olhar para a história do país, a partir da ocupação japonesa (1910-1945) e da Guerra da Coreia (1950-1953). “A vingança veio como uma herança dos sentimentos históricos que ficaram”, explica o curador. “Por essa razão, é comum nos filmes que alguns personagens japoneses sejam representados como uma entidade maligna ou como o vilão da história”.

O passado da ocupação japonesa é o pano de fundo, por exemplo, de “A Criada”, de Chan-Wook Park. Na trama, uma coreana rica aguarda o seu casamento forçado com um homem japonês que pretende apoderar-se de sua fortuna – ela conta com a companhia de uma criada, por quem ela sente desejo sexual. Questionado sobre o uso de erotismo na trama, Pegoraro afirma que essa não é uma característica comum no movimento, conhecido como “Nova Onda” do cinema sul coreano e que tem como elemento principal o uso da violência. “No filme, o erotismo é um recurso narrativo, usado para representar uma opressão que se transforma em liberdade”, explica o curador.

Duas vezes premiado em Cannes, Chan-Wook Park tem a sua própria Trilogia da Vingança, composta pelos filmes “Mr. Vingança”, “Oldboy” e “Lady Vingança” – apenas o primeiro é exibido na Mostra. Ele é talvez o cineasta mais reconhecido internacionalmente desse grupo, que inclui também nomes como Jee-Woon Kim (“O Gosto da Vingança”) e Joon-Ho Bong (“O Hospedeiro”), ambos com títulos na Mostra. “Acredito que o caráter mais autoral de Park nos filmes fez com que ele ficasse mais conhecido no ocidente”, opina Pegoraro, que sublinha a participação do cineasta nos festivais internacionais.

A Mostra traz, entre outros destaques, três filmes de Joon-Ho Bong, cineasta que esteve em evidência este ano pela produção de “Okja”, exibido no Festival de Cannes. Os longas selecionados para a Mostra são “O Hospedeiro”, “Mother” e “Memórias de Um Assassino”. Outro destaque é o mais recente longa-metragem de Hong-jin Na, “O Lamento”. “Esse filme possui uma das melhores cenas de exorcismo do cinema contemporâneo, seguindo as crenças xamânicas”, comenta Pegoraro. “É uma sequência dinâmica e supercolorida”, conclui.

Por Gabriel Fabri