Um dos fundadores do Nuevo Cine Latinoamericano, entidade de apoio ao cinema criada no Festival de Viña del Mar de 1967 e presidida por Gabriel García Márquez, o cineasta boliviano Jorge Sanjinés ganha uma retrospectiva no Centro Cultural São Paulo (CCSP). Entre os dias 28 de novembro e 3 de dezembro, são exibidos, ao todo, nove filmes do diretor, com sessões gratuitas.

Primeiro cineasta a incorporar os dialetos indígenas Quéchua e Aymara ao cinema da Bolívia, Sanjinés realizou obras de ficção, mas com caráter documental, preservando a memória e as culturas das tribos. Entre as suas principais características, está o uso de atores não-profissionais, todos indígenas e atuando nas suas línguas de origem.

A curadora Cristina Beskow vê os filmes de Sanjinés como o resultado de uma pesquisa sobre o imaginário indígena. “Este cinema possui uma concepção particular de ayllu [comunidade] que se opõe de diversas formas às noções ocidentais-europeias-burguesas de temporalidade, de propriedade e de sociedade”, explica. Promovendo uma produção de uma espécie de “memória comunitária”, os filmes de Sanjinés buscam uma estética indígena e procuram reproduzir fatos históricos através das perspectivas desses povos.

Entre os destaques está o primeiro longa-metragem do cineasta, “Ukamau” (1996), que fala sobre a recuperação da soberania indígena; e “A Nação Clandestina” (1989), cujo tema é a recuperação da identidade perdida. Esse último longa-metragem utiliza diversos planos-sequências filmados com uma câmera colaborativa. “Gravadas em um único plano, essas cenas unem as noções indígenas de tempo e coletividade”, conclui a curadora.

Por Gabriel Fabri

Serviço: Centro Cultural São Paulo. R. Vergueiro, 1.000, Paraíso. Próximo da estação Vergueiro do metrô. Centro. | tel. 3397-0001 e 3397-0002. De 28/11 a 3/12. Grátis.

Confira a programação completa: http://centrocultural.sp.gov.br/site/eventos/evento/mostra-jorge-sanjines-um-cinema-junto-ao-povo/