Dança mistura universos de Lewis Carroll e Beatles

“Céu de espelhos” faz sua estreia no 20º Cultura Inglesa Festival; apresentações acontecem entre os dias 26 e 29, na Galeria Olido

 Inspirado na canção “Lucy in the sky with diamonds”, da banda inglesa The Beatles, e nos livros “Alice no país das maravilhas” e “Alice através do espelho”, de Lewis Carroll, o espetáculo de dança “Céu de espelhos” faz sua estreia no 20º Cultura Inglesa Festival. As apresentações acontecem entre os dias 26 e 29, na Galeria Olido. Em junho, a coreografia chegará a outros quatro teatros municipais, integrando o Circuito Municipal de Cultura.

Segundo o diretor Samuel Kavalerski, que também divide o palco com a bailarina Irupé Sarmiento, a principal conexão entre as obras que inspiraram o espetáculo são suas imagens oníricas, que desafiam a lógica. “O nonsense de Carroll e a psicodelia dos Beatles nos fazem pensar sobre as relações entre o mundo da imaginação, livre e sem limites, e a realidade concreta”, explica. Por isso, há a preocupação de criar um ambiente surrealista, explorando as inúmeras possibilidades ligadas ao sonho. Dos elementos cênicos à composição dos movimentos, tudo foi pensado a partir dessa ideia de suspensão da realidade. Assim, além da ambientação, a própria coreografia também é surrealista. “Eu acredito que toda dança é uma forma de suspender a realidade”, complementa o diretor.

No espetáculo, Lucy, da canção dos Beatles, e Alice, da obra de Carroll, são vistas como um reflexo uma da outra. “Pensamos muito no encontro dessas duas personagens, na ideia mágica de se atravessar o espelho e encontrar essa inversão que é o duplo”, revela Kavalerski. Como inspiração para aquilo que o diretor e intérprete chama de “jogo de reflexos”, ele acrescenta uma imagem: a do caleidoscópio. “Esse espelho facetado e em movimento, que reflete fragmentos da realidade, está presente nos nossos procedimentos de (des)construção do espetáculo”, explica. Um exemplo são as referências estéticas, que vão além de Carroll e dos Beatles, passando por um processo de pesquisa que remete a esse objeto: “Foi como se olhássemos por um caleidoscópio e fôssemos apreendendo e costurando essas imagens fragmentadas e muitas vezes desconexas.”

Kavalerski espera que a coreografia inspire as pessoas a partir de uma crença de que a arte pode ser uma possibilidade de transformação da realidade. “Gostaríamos que o espetáculo abrisse uma lacuna no cotidiano de normas, regras, planilhas e caixinhas em que vivemos hoje, onde tudo precisa ser explicável e classificável.”

| Gabriel Fabri

| +12 anos. Galeria Olido – Sala Paissandu. Centro. De 26 a 28, 20h. Dia 29, 19h. Grátis (retirar ingresso a partir de uma hora antes)