Sensações do samba inspiram dança de Claudia de Souza

“Beija minha mão”, espetáculo da Cia. de Danças Claudia Souza, estreia no Centro Cultural Olido

“Falamos de como o samba nos afetou e o que encontramos nas nossas memórias e sensações”, explica Claudia de Souza, diretora do espetáculo “Beija minha mão”, que tem estreia nacional dia 6, na Sala Paissandu do Centro Cultural Olido. A coreografia completa a trilogia “Samba” –composta também por “Profanação” e “Roda de pólvora” – e marca também a celebração dos 20 anos da companhia que leva o nome da dançarina. O projeto foi selecionado pela 18ª edição do edital de Fomento à Dança, da Secretaria Municipal de Cultura.

O samba não é propriamente o tema do trabalho. “O espetáculo entende esse ritmo como um dispositivo de provocar sensações”, afirma Claudia, que também sobe aos palcos junto com as intérpretes Cristiana de Souza, Janaína Castro e Yeda Peres. “Não é sobre o samba, mas está dentro de um viés de pesquisa sobre sua origem e tradição e como ela nos afeta, nos provoca e nos desperta”.

No início da companhia, Claudia começou a trabalhar com a capoeira e, aos poucos, a pesquisa corporal do grupo foi se aproximando do samba de raiz, o que possibilitou a trilogia. “Das pesquisas em diferentes grupos de capoeira, a tradicional roda de samba praticada ao final de cada jogo foi se revelando como outra potente referência para a investigação do que entendemos por corpo-ritual: um conjunto de estados, sensações e pensamentos que se organizam de forma a se comunicar por códigos autorais tanto estéticos quanto sensoriais”.

Segundo Claudia, os dançarinos trabalham com o estado de “liminaridade”, que significa: “estar no limite ou entre dois estados diferentes de existência”. Seria, portanto, um estado de entrega absoluta do artista para com a cena. “Trabalhamos no limite do estado de consciência de quem somos para algo que tem uma parte de nós e outra não conhecida ou experimentada”, explica a diretora. “É um estado fronteiriço entre ser você e também ser outra pessoa que tem um pouco de você, como em estados de incorporação”.

Para a diretora, esse espetáculo, apesar de ser o último da trilogia, não representa seu encerramento. “Não trabalhamos com temas e o samba não entrou descolado do que já estávamos investigando”, afirma. “O samba escorregou da capoeira, que também escorregou do desejo inicial na formação da companhia, que era trabalhar o intérprete a partir de um estado de atenção, de um estado de jogo e troca”.

| Gabriel Fabri

| Livre. Centro Cultural Olido – Sala Paissandu. Centro. De 6 a 9. 5ª a sáb., 20h. Dom., 19h. Grátis (retirar ingresso a partir de uma hora antes)