Balé da Cidade desconstrói “O Quebra-Nozes”

“Quebrakovsky - The nuts talent show” traz para o clássico balé de Tchaikovsky elementos de reality show e faz uma crítica à sociedade contemporânea

Considerado um dos maiores títulos clássicos românticos do repertório mundial, o balé “O quebra-nozes”, com música do compositor russo Piotr Ilyitch Tchaikovsky, ganha uma versão totalmente reformulada pelo Balé da Cidade de São Paulo em seu novo espetáculo: “Quebrakovsky - The nuts talent show”. Para a encenação, o coreógrafo convidado Alex Soares acrescentou novos personagens à história de Clara, uma menina cujo boneco ganha vida em seus sonhos. Além disso, ele levou ao palco o universo das danças urbanas e trocou a ordem das músicas para apresentar um Natal ainda mais frio do que na versão original. A estreia ocorre dia 9, no Theatro Municipal de São Paulo, e o acompanhamento musical fica por conta da Orquestra Sinfônica Municipal, sob a regência do maestro Eduardo Strausser.

Autor de outros ícones do balé clássico, como “O lago dos cisnes” e “A bela adormecida”, o próprio Tchaikovsky se transforma em personagem no espetáculo. O compositor aparece em cena para comentar a história em um exercício de pura metalinguagem. “É como se o tempo congelasse e ele aparecesse para alguns apontamentos”, explica Soares. Pesquisando diários do músico, o coreógrafo descobriu que este ficou decepcionado com o resultado de “O quebra-nozes” e resolveu incluir, nesta nova versão, mais do momento em que a dança foi concebida, no final do século 19. “De maneira sutil, vamos construindo várias camadas de sentidos”, conta. Naquela ocasião, o compositor sofria com a morte da irmã. “Vejo que algumas partes da música carregam essa dor.”

A encenação inclui também projeções em vídeo que acrescentam a esse universo uma crítica contemporânea. “Fiz um exercício de imaginação, de pensar para onde está indo toda essa alienação com a tecnologia e como seria isso em uma véspera natalina”, pontua Soares. “É um Natal mais frio, no sentido das relações humanas”. Além disso, no segundo ato, as célebres apresentações das danças de diversos países, como Espanha, China e Rússia, ganham roupagem de #reality show#. “É uma crítica às franquias enlatadas, que são iguais no mundo todo. Aliás, o próprio ‘Quebra-nozes’ virou uma”, explica Soares, que procurou fazer do seu “Quebrakovsky” um espetáculo mais crítico e atual.

| Gabriel Fabri

| +10 anos. Theatro Municipal de São Paulo. Centro. De 9 a 12, 20h. Dia 13, 17h. R$ 25 a R$ 90