Balé da Cidade apresenta “concerto dançante” no Theatro Municipal

Em parceria com o Coro Lírico, Ismael Ivo coreografa “Winterreise” (Viagem de Inverno), de Franz Schubert

“É um canto que machuca duramente a alma, mas é lindo”, sintetiza Ismael Ivo, diretor do Balé da Cidade, a respeito “Winterreise” (“Viagem de Inverno”, em português), um ciclo de 24 canções do compositor alemão Franz Schubert. Em parceria com o Coro Lírico, Ivo dirige uma versão coreografada e autoral dessa obra, que leva oito bailarinos ao palco para interpretar, de maneira poética e abstrata, as memórias do interlocutor das canções. Com a presença do barítono Vinícius Atique e do pianista Anderson Brenner, as apresentações acontecem entre os dias 17 e 20 de maio, no Theatro Municipal.

Denominado de “concerto dançante” por Ivo, o espetáculo é constituído por uma dança mais abstrata, que lembra o estilo japonês butoh, este inspirado, por sua vez, em diversas vanguardas artísticas europeias. “São corpos líquidos, que fazem movimentos que se desmancham”, explica o coreógrafo. “Muitas vezes os corpos desenham e não terminam a figura, desaparecem”. Os oitos dançarinos não representam personagens específicos na vida do eu lírico, e sim fragmentos de memória, com uma presença que Ivo descreve como quase fantasmagórica. “É uma ficção do Winterreise, onde os bailarinos são personagens etéreos e vão se manifestando de acordo com a música e com a memória, não de uma forma lógica”, afirma.

A ideia de corpos que se liquefazem está presente também no prólogo da apresentação, que acontece no foyer do Theatro Municipal. Com o barulho de gelo se quebrando, os bailarinos fazem poses e movimentos que estão presentes no espetáculo, atiçando a curiosidade do público. A mulher amada do interlocutor, por exemplo, fica parada como se fosse uma das estátuas da escadaria de mármore.

Se do lado de fora o som remete ao gelo que se derrete, no palco a paisagem faz alusão à neve. Com exceção das gralhas negras, tudo é branco, do figurino ao cenário. Ismael Ivo recorda-se de sua vivência na Alemanha para descrever essa ambientação. “No primeiro dia de nevasca, você abre a porta de sua casa e vê um mundo surreal”, lembra o diretor. “Aquilo era tudo concreto no dia anterior, mas no dia seguinte você olha e pensa: o que aconteceu?!”. Essa atmosfera invernal representa a “solidão gélida” do eu lírico. “É uma coisa tão profunda que é como se o personagem estivesse em uma camisa de força”, conclui.

Por Gabriel Fabri