Cultura Inglesa Festival tem estreia de espetáculos de dança no Centro Cultural Olido

“Cansei de Ser Sereia” e “Égua” podem ser vistos a partir do dia 25 de maio

Em parceria com a Secretaria Municipal de Cultura, o 21º Cultura Inglesa Festival estreia dois espetáculos de dança no Centro Cultural Olido. Dirigido por Ricardo Gali, a coreografia “Cansei de ser sereia” tem apresentações gratuitas entre os dias 25 e 28 de maio. Já “Égua”, de Josefa Pereira e Patrícia Bergantin, entre os dias 1º e 4 de junho.

Inspirado na música e no videoclipe de “Spectrum”, da banda inglesa Florence + The Machine, em que os bailarinos dançam vestidos de sereia, o espetáculo “Cansei de Ser Sereia” utiliza elementos da mitologia dessa figura para discutir transformações corporais, especialmente na adolescência, problematizando a busca por aceitação social e a imposição de padrões de beleza e comportamento. “A mu?sica apresenta alguns elementos metafo?ricos que nos facilita fazer uma relac?a?o entre a fase de afirmação da identidade e a superac?a?o dos medos”, explica Gali. Um dos exemplos é o refrão da canção, em que a intérprete Florence Welch reforça a noção de identidade ligada ao nome próprio: “Diga meu nome / E todas as cores se iluminam / Nós estamos brilhando / E nunca teremos medo de novo” (em tradução livre do inglês).

Para Gali, a figura da sereia sobrevive fortemente, uma vez que os momentos de transformações sociais e políticas provocam certa perda de identidade, que leva à busca por novos padrões e por uma nova ética. Essa perda de identidade é central no mito da sereia. “Em períodos de abuso de poder político, como no conto da Pequena Sereia, de Hans Christian Andersen, acabamos perdendo a voz, ou até mesmo os nossos pés e a possibilidade de caminhar”, afirma. A respeito do conto de Andersen, uma das principais referências na construção do imaginário da sereia, o diretor conta ser possível lê-lo como uma história sobre o corpo feminino sendo readequado em função do desejo de um outro masculino. “Pelo príncipe, a Pequena Sereia abre mão de uma de suas maiores qualidades, a voz, que também poder se visto como o poder de discussão e posicionamento”, explica. “Ela acredita ter que adaptar seu corpo e adequá-lo ao desejo do príncipe, não aceitando ter cauda”, conclui Gali.

Já na coreografia “Égua”, as bailarinas Josefa Pereira e Patrícia Bergantin se propuseram a investigar uma sensação de liberdade provocada pela música “Horses in My Dreams”, da cantora inglesa PJ Harvey. Assim surgiu o espetáculo “Égua”, duo em que as dançarinas se desafiam a experimentar a potência de um cavalo. “Não queríamos falar sobre esse animal, mas estarmos cavalas percorrendo linhas de fuga”, explica Josefa. Todo o espetáculo é um experimento em que coisas triviais, animais e humanas, como comer e saltitar, ganham o palco. “Fomos borrando essas separações e dualidades entre cavala e mulher, selvagem e domesticado”.

Josefa explica que o cavalo é uma imagem que transmite força e sofisticação, mas o mesmo não acontece com o seu feminino “Égua”. Por isso, esse foi o nome escolhido para o espetáculo. “Uma égua não é um cavalo e isto é muita coisa”, afirma. “Despertadas pela escuta insistente da canção, colocamos em movimento um campo que tensiona forças propulsoras e opressoras”, conclui.

Por Gabriel Fabri

Serviço: Centro Cultural Olido. Av. São João, 473. Próximo das estações República, Anhangabaú e São Bento do metrô. Centro.| tel. 3331-8399 e 3397-0171. Cansei de Ser Sereia: de 25 a 28/5. Égua: de 1º a 4/6. 5ª a Sab., 20h. Dom., 19h. Grátis.