Ópera “Lá Bohème”, de Puccini, retorna aos palcos do Theatro Municipal

Sob direção de Julianna Santos, montagem do francês Arnaud Bernard é reapresentada a partir de 30 de abril

Considerada pela crítica como a primeira “ópera proletária”, “La Bohème” coloca os miseráveis e desfavorecidos no centro de sua narrativa, em um gênero teatral acostumado a valorizar, ao menos até 1896, apenas os mundos dos deuses ou aristocratas. A história de quatro amigos boêmios e empobrecidos e um amor impossível, na Paris do século XIX, foi também considerada a obra-prima do compositor italiano Giacomo Puccini, que já havia apresentado “Manon Lescaut” e estrearia, em seguida, espetáculos como “Tosca” e “Madama Butterfly”. Reapresentando a montagem de 2013 do francês Arnaud Bernard, o Theatro Municipal recebe “La Bohème” entre os dias 30 de abril e 8 de maio. A direção da remontagem é de Julianna Santos.

Baseada no romance “Scènes de la vie de Bohème”, de Henry Murger, a ópera começa com quatro artistas passando fome e frio: Rodolfo, Marcelo, Colline e Schaunard. O poeta Rodolfo logo encontrará o amor em Mimì, uma mulher frágil e que sofre de tuberculose; enquanto isso, o pintor Marcello é torturado de ciúmes pela irresistível Musetta, cujo coração também é disputado por Alcindoro, um rico burguês.

Com inspiração nas fotografias em preto e branco de Robert Doisneau (1912-1994), Bernard criou cenários cinzentos e concebeu “La Bohème” como um grande sonho. Para Julianna Santos, responsável pela remontagem de 2016, esses cenários, junto com a iluminação, sugerem “um espaço lúdico com uma certa irrealidade”. A pequena mansarda onde vivem os quatros amigos, por exemplo, vai se transformando aos poucos diante dos olhos do espectador, por meio da manipulação dos objetos em cena. “No início do primeiro ato, vemos apenas uma massa de objetos cinzentos no centro do palco, sem entender muito bem o que é”, explica. “Ampliando a ideia de sonho, no segundo ato, os mesmos objetos são utilizados, mas agora multiplicados para construir o ambiente do café Mommus”. Segundo Julianna, a atuação dos artistas e a escolha e organização dos objetos em cena não têm compromisso com a realidade, mas sim com a construção do “espaço onírico”. “Através desse sonho vemos a passagem da idade da juventude para idade adulta, quando esses jovens se deparam com uma situação com a qual não encontram um caminho de solução possível”, detalha. “O ambiente de descontração e brincadeira deixa de fazer sentido para eles”.

Nas melodias e no livreto de “La Bohème”, tristeza e alegria se misturam. “Temos momentos absolutamente leves, engraçados e divertidos na forma de retratar a convivência desses quatro jovens e o modo com lidam com os problemas que devem enfrentar no dia a dia, nesse caso, a fome, o frio e falta de dinheiro”, explica. Entretanto, esses garotos não poderão lidar da mesma maneira diante da morte e da doença. “Acredito que ‘La Bohème’ é uma ópera de extremos e, inclusive na encenação, o diretor Arnaud Bernard aposta muito nesses extremos”.

A remontagem de Julianna Santos segue à risca a de Bernard, tendo apenas algumas alterações de elenco. A diretora conta que participou da montagem de 2013 como assistente, e que começou estudando as suas anotações daquela época, com as intenções de Bernard e as marcações de todo o espetáculo. “Fiquei bastante preocupada em não perder a energia criada originalmente pelo diretor”, revela. Havia também a preocupação de transmitir a concepção original para os novos cantores. “Para criar um trabalho artístico conjunto, é sempre necessário estar aberto aos diálogos, ao que as pessoas têm a dizer e dessa forma encontrar um caminho comum. Por isso, apesar de mantermos a estrutura cênica, cada artista traz sua particularidade, sua experiência”, conclui.

Por Gabriel Fabri

Serviço: | Theatro Municipal de São Paulo. Pça Ramos de Azevedo, s/nº, Centro. Dias 30/4, 3, 4, 6 e 7/5, 20h. Dias 1º e 8/5, 17h. R$ 50 a R$ 160