Lady Macbeth é apresentada no Theatro Municipal

Ópera russa entra em cartaz entre os dias 12 e 17, com participação da Orquestra Sinfônica de São Paulo e do Coro Lírico

 Infeliz com seu casamento, Katerina trai o marido com um de seus empregados. Flagrado o adultério pelo sogro, os acontecimentos a seguir se desenvolvem de maneira trágica e violenta. Essa é a trama de “Lady Macbeth do Distrito de Mtsensk”, ópera russa em quatro atos de Dmitri Shostakovich, inspirada no livro de mesmo nome de Nikolai Leskov. O espetáculo é apresentado entre os dias 12 e 17 no Theatro Municipal, com direção cênica de Dmitry Berman e participação da Orquestra Sinfônica de São Paulo e do Coro Lírico.

Para o maestro Paulo Maron, que ministra uma palestra sobre a ópera no dia 9, “Lady Macbeth” é um espetáculo à frente de seu tempo. “Shostakovich estava no meio de uma ditadura e escreveu uma obra muito ousada do ponto de vista político e social”, explica. A denúncia dos campos de prisioneiros na Sibéria (os chamados “gulags”), a sátira à polícia, o erotismo da trama e a escrita musical moderna, que, segundo Maron, mistura “uma música de caráter trágico com o irônico e o grotesco”, tudo isso pode ter irritado Stalin quando o então líder da União Soviética (URSS) assistiu à obra em 1936. Na ocasião, o ditador levantou-se antes mesmo da cena final. Não tardou para o jornal governamental publicar o artigo “Lama em vez de música”, colocando um ponto final na trajetória de sucesso da ópera, que já havia sido encenada quase 200 vezes no país em apenas dois anos. Maron acrescenta que “Lady Macbeth” foi usada como uma manobra do governo stalinista para impor as diretrizes do realismo soviético, o ideal estético do regime. “Foi um pretexto para atingir a todos os artistas russos”, afirma. Banida da URSS, a ópera de Shostakovich se tornou uma lenda e só voltou aos palcos russos em 1962, em uma versão editada.

Sobre a obra, vale ressaltar que Katerina é a única personagem que não é caricatural ou na qual não são focados os seus aspectos desagradáveis. Isso aparece também na música. Segundo Maron, a linguagem musical é usada como simbologia para os personagens. “Se a polícia é colocada sempre com uma temática musical mais satírica, mais grotesca, Katerina sempre é um estilo mais lírico”, exemplifica. Para o maestro, a Katerina, de Leskov, guarda muitas semelhanças com Lady Macbeth de Shakespeare, que induz o marido a matar para ascender ao poder. Entretanto, Shostakovich humaniza sua personagem, colocando-a também como vítima da sociedade patriarcal. “A obra é pioneira nesse sentido de mostrar até um contexto feminista”, conclui.

Por Gabriel Fabri

Serviço: Palestra: Praça das Artes – Sala do Conservatório. Av. São João, 281, Centro. Dia 9, 17h. Grátis. +10 anos. Ópera: Theatro Municipal de São Paulo. Pça Ramos de Azevedo, s/nº, Centro. Tel. 3053-2090. De 12 a 16, 20h. Dia 17, 17h. R$ 50 a R$ 160