Ópera Sangrenta de Richard Strauss chega ao Municipal

“Elektra” estreia dia 9 de outubro com direção cênica de Livia Sabag

O tema musical associado a Agamenon, pai assassinado da personagem-título, abre o primeiro e único ato de “Elektra”, ópera do alemão Richard Strauss. “Essa melodia volta de tantas formas durante a peça, que é quase como um pensamento obsessivo da Elektra”, explica Livia Sabag, diretora cênica da montagem que estreia dia 9, no Theatro Municipal. Segundo ela, a princesa fica aprisionada pela memória do pai e na promessa de vingança. “A obsessão por vingar essa morte, matando a própria mãe, e a maneira como esse sentimento corrói Elektra são os temas da peça, que marca a primeira colaboração de Strauss com o dramaturgo austríaco Hugo von Hofmannsthal”. A encenação tem regência do maestro Eduardo Strausser, à frente da Orquestra Sinfônica Municipal, e acompanhamento do Coro Lírico.

Para a montagem, Livia, que dirigiu “Salomé”, também de Strauss, em 2004, no Municipal, optou por não explorar o sangue como aspecto plástico, apesar dessa ópera ser considerada pelos eruditos como uma das mais violentas. “Meu foco são as relações destruídas dentro da família”, explica. “A grande tragédia é a incapacidade dos personagens de se recuperar do trauma do assassinato”. Para isso, a diretora, preocupada em ressaltar as relações familiares, criou o conceito de um ambiente doméstico, um casarão com aspecto vitoriano. “Eles não conseguem acessar os próprios sentimentos e acabam todos se destruindo dentro dessa casa”, completa a encenadora, que faz também alusão a uma frase de “Cenas de um casamento”, filme do cineasta sueco Ingmar Bergman: “Somos todos analfabetos emocionais”.

Responsável pelo cenário, Nicolás Boni explica o que existe por trás de seu acabamento realista. “Há um segundo nível de significado visual mais onírico que se concretiza por meio de projeções de imagens, algumas delas inspiradas em filmes do Bergman que nos permitem submergir, apenas por instantes, no universo subjetivo de todos os personagens”, afirma. Entretanto, para criar o espaço cênico, foi necessário renunciar a todo tipo de fantasia, reduzindo ao mínimo os simbolismos. “Prevaleceu a exposição da obra em toda a sua crueza”, pontua. “Como um drama humano íntimo, uma enorme tragédia familiar dentro do próprio lar”. Por fim, ele ressalta os espaços do casarão, “quase sem saída e sufocantes”, que aproximam o público da angústia existencial permanente de Elektra. 

| Gabriel Fabri