“Fosca”, de Carlos Gomes, é encenada no Theatro Municipal

Montagem inédita de Stefano Poda estreia dia 7 de dezembro

Encerrando a temporada lírica de 2016, uma montagem inédita da ópera “Fosca”, com direção do italiano Stefano Poda, homenageia os 180 anos de nascimento e 120 anos de morte do compositor brasileiro Antonio Carlos Gomes. O espetáculo, dividido em quatro atos, é apresentado entre os dias 7 e 17 de dezembro, no Theatro Municipal, e conta com a participação da Orquestra Sinfônica Municipal, regida por Eduardo Strausser, do Coro Lírico Municipal e do Balé da Cidade. Ambientada em uma comunidade de piratas no século X, a peça conta a saga de vingança e paixão tramada pela personagem Fosca.

Para o maestro Lutero Rodrigues, que ministra palestra gratuita no dia 4, “Fosca” foi uma ópera inovadora em seu contexto, na Itália de 1873. Uma das razões é o uso sistemático do recurso de temas recorrentes na música, algo que só existia em proporção bem pequena nas produções italianas. “São melodias que acompanham determinados personagens ao longo da ópera”, explica. “Elas também podem ser mudadas conforme o caráter do personagem ou seu estado de espírito. A Fosca, por exemplo, tem vários temas recorrentes ligados a ela”. O palestrante alerta que esses temas não são uma técnica idêntica ao leitmotiv, de Wagner, embora as duas técnicas tenham semelhanças. “Até a época da ‘Fosca’, o próprio Wagner não havia ainda sistematizado a técnica em sua forma mais radical, mais evoluída”, afirma Rodrigues. “Portanto, não é possível que Gomes usasse o mesmo procedimento que Wagner só introduziria mais tarde”.

Autor de “Carlos Gomes – Um Tema em Questão”, Rodrigues afirma que o sucesso que Gomes obteve na Europa foi algo inédito para um compositor do continente americano. “A importância dele para a ópera brasileira não tem igual, ninguém chegou aos pés de Carlos Gomes quanto a isso”, completa. Ele, entretanto, reitera que Gomes fazia música italiana – o que foi motivo para os modernistas criticarem, posteriormente, a obra do compositor. “Aquela expectativa de que ele fizesse música brasileira não existia na época, não havia chance de ele fazer isso na Itália”, afirma. “Sequer existia essa preocupação em 1873, estamos apenas há cinquenta anos da independência”.

Por Gabriel Fabri