“ANTIdeus” estreia no CCSP

Espetáculo integra a 3ª Mostra de Dramaturgia em Pequenos Formatos Cênicos

 Imagine você se, do dia para a noite, todos os feriados religiosos do país fossem extintos por decreto presidencial. Qual seria a reação da Igreja, dos trabalhadores, dos estudantes, das empresas de turismo e do comércio em geral?
Partindo dessa hipótese, o dramaturgo Carlos Canhameiro escreveu a peça “ANTIdeus”, que estreia dia 7 na sala Jardel Filho, do Centro Cultural São Paulo (CCSP). O espetáculo substitui “Boi Ronceiro - Uma Fábula de Horror”, de Ricardo Inhan, que sai de cartaz no dia 2. Ambas as produções fazem parte da 3ª Mostra de Dramaturgia em Pequenos Formatos Cênicos do CCSP e foram selecionadas entre mais de 200 textos que se inscreveram no projeto. Em agosto, é a vez de “A Mulher que Digita”, de Carla Kinzo com direção de Isabel Teixeira.

ANTIdeus
“Minha peça não é anticlerical”, enfatiza o autor de “ANTIdeus”. “Na verdade, também não me incomodam os aspectos econômicos que poderiam advir de tal medida governamental. O que me interessa é questionar até que ponto a influência da religião na sociedade pode ser benéfica ou não, e se um estado totalmente laico não facilitaria uma relação mais solidária entre as pessoas, longe dos preconceitos e dos radicalismos.”
Canhameiro lembra que, além de servir de motivo para alguns aspectos históricos sombrios da humanidade, como as Cruzadas, a Inquisição e as Guerras Santas, ainda hoje a religião afeta diretamente as mulheres, crianças e toda a comunidade LGBT. “Assim, nas nove cenas que integram a peça, são abordados aspectos práticos dessa interferência, como as questões do aborto, da homossexualidade e da liberdade sexual.”
O dramaturgo vem do curso de Artes Cênicas da Unicamp, onde se formou e se doutorou. De lá, convidou quatro dos seis atores do espetáculo que, além de interpretar, cantam e tocam instrumentos: Lineker e Paula Mirhan (canto), Rui Barossi (contrabaixo), Ernani Sanches (guitarra), Marilene Grama e Daniel Gonzáles. Os cenários e figurinos são de Renan Marcondes e a direção do próprio Canhameiro.

Boi Ronceiro
“Boi Ronceiro - Uma Fábula de Horror”, texto de Ricardo Inhan, aborda questões fundiárias e os conflitos de uma tradicional família mineira. O reencontro entre dois velhos amigos em um pedaço de terra no sul de Minas Gerais revela que a cerca que os separava na infância ainda predomina na sisudez de um estado parado no tempo. Quando a esposa grávida de um deles questiona o rompimento da amizade, as bases do coronelismo, família, latifúndio e poder vêm por terra. A direção é de Mariana Vaz e no elenco estão Eduardo Gomes, Luciana Lyra e Pedro Stempniewski.

Dramaturgia em Pequenos Formatos
O Edital de Dramaturgia em Pequenos Formatos Cênicos, do Centro Cultural São Paulo (CCSP), tem como objetivo fomentar a criação teatral e promover a montagem e estreia de obras cênicas inéditas, que vieram dessas dramaturgias, dentro da programação do CCSP.
A qualidade dos espetáculos já foi reconhecida pelo público e crítica especializada. Autora de “Mantenha Fora do Alcance do Bebê”, Silvia Gomez ganhou o Prêmio APCA e foi indicada ao Prêmio Shell. Vinicius Calderoni, por sua vez, dramaturgo de “Os Arqueólogos”, também foi escolhido o Melhor Autor pela APCA e indicado ao Shell. Já, pelo projeto em si, o Centro Cultural São Paulo esteve entre os finalistas do Prêmio Shell de Teatro 2016 na categoria Inovação, pelo estímulo à experimentação de novas formas cênicas, dramatúrgicas e de produção.

Por Gilberto De Nichile


| “Boi Ronceiro - Uma Fábula de Horror”. Sala Jardel Filho. +14 anos. Até dia 2. 6ª e sáb., 21h. Dom., 20h. R$ 10
| “ANTIdeus”. Sala Jardel Filho. +14 anos. De 7 a 30. 6ª e sáb., 21h. Dom., 20h. R$ 10 (dia 14, preço popular: R$ 3)