Circuito de saraus chega às casas de cultura, bibliotecas públicas e centros culturais

Encontros foram contemplados pelo programa Veia e Ventania

“O sarau foi o começo de tudo”, afirma Djalma Pereira da Silva, um senhor de 67 anos que, em 2013, já aposentado, conheceu o Sarau do Binho por acaso, em uma praça do Campo Limpo, bairro da zona sul da cidade. Nesse local, ele declamou, pela primeira vez, poesias suas que estavam engavetadas desde que começou a escrever, quando ainda era adolescente. “O sarau me modificou”, conta o ex-metalúrgico da Paraíba. “Eu era um pouco tímido, mas ganhei mais coragem, mais vontade de conviver com as pessoas.”

Já preparando seu segundo livro de poesias, Djalma é, segundo Binho, poeta e criador do sarau que leva seu nome desde 2004, um exemplo de como esses encontros literários impactam na vida das pessoas. “Ele não aceitava o seu cabelo crespo até que começou a frequentar os saraus”, explica. “Me parece que as pessoas vão se aceitando como elas são, a poesia as faz se enxergarem mais.”

A falta de estima com o próprio cabelo acompanhou Djalma desde criança, depois de vivenciar um triste episódio. “Meu pai tinha um armazém que os coronéis frequentavam, e todos eram racistas”, recorda-se o poeta. Certo dia, um deles reclamou do cabelo do garoto com o pai, que começou a raspar sempre a cabeça do filho. “Eu devia ter uns 6 anos e fiquei com essa coisa dentro de mim”, confessa. Compartilhar no sarau essa história o fez perceber que seu cabelo era bonito e que sofria por algo que nada mais era do que puro preconceito dos outros. “A gente tem que ser nós mesmos”, sintetiza.

Cultura das bordas

Djalma é apenas um dos exemplos da importância que os saraus exercem na vida de seus frequentadores. Essa atividade, que consiste em um encontro para as pessoas apresentarem seus trabalhos artístico-literários e trocarem experiências, é de suma importância nos bairros periféricos. Por isso, a Secretaria Municipal de Cultura publicou em abril um novo edital do programa Veia e Ventania, para fomentar e fortalecer ainda mais a atividade desses coletivos. Além disso, diversos saraus, como o do Binho, circulam em junho por equipamentos municipais, como casas de cultura, bibliotecas públicas e centros culturais.

Neste mês, além do Binho, se apresentam os saraus Batuque a Cidade, Perifatividade, Os Conversadores, Clamarte, D’Quilo, Poetas do Tietê, Preto no Branco, Encontro de Utopias, Bodega do Brasil, da Praga, Elo da Corrente, A Voz do Povo e Filhos de Ururaí.

Para Binho, a itinerância dos saraus enriquece a troca de experiências proporcionada por esses encontros. “Tem esse intercâmbio de áreas geográficas, mas ainda é tudo a mesma periferia, ou melhor, são todos seres humanos que estão nas bordas”, explica. “É um encontro humano, de potencialidades, de criatividade”. É importante ressaltar que, em cada edição, a diversidade de atrações vai muito do tipo de público, não se limitando à literatura, mas também incluindo canto, dança, ciranda, entre outras manifestações. Todas elas são bem-vindas, pois nenhum sarau é igual ao outro.”

| Gabriel Fabri