Representação negra no terror é tema da mostra “Horror Noire”

Filmes como “Nós” e “Corra!”, ambos de Jordan Peele, são exibidos no CCSP entre os dias 8 e 17 de agosto

Pesquisadora da Universidade de Michigan (EUA), a Dra. Robin R. Means Coleman é autora do livro “Horror Noire”. Em virtude de seu lançamento no Brasil, o Centro Cultural São Paulo (CCSP) apresenta, em parceria com a editora Darkside Books, uma mostra homônima à obra. Enfocando a representação negra no terror, os filmes são exibidos entre os dias 8 e 17 de agosto, com sessões gratuitas. No dia 10, é realizado um debate seguido da sessão do longa-metragem “Nós”, de Jordan Peele. O bate-papo conta com a presença do crítico e professor Heitor Augusto, do site Urso de Lata; da pesquisadora Kênia Freitas e da escritora Cecília Floresta, que fez a preparação da edição brasileira do livro.

Para Augusto, o cinema de horror se tornou, ao longo da história, um ambiente mais aberto a artistas negros. “Eu diria, na verdade, menos hostil”, completa o crítico. Ele ressalta que isso foi fruto de movimentações sociais maiores que se refletem em outros gêneros, não apenas no horror. “Sempre tivemos artistas negros que lutam tanto para construir as nossas próprias imagens quanto na correção das fantasias raciais (e racistas) perpetradas por Hollywood.”

O horror negro representa, para o crítico, um campo potente de possibilidades estéticas e narrativas. “Ele tem um potencial não só de elaborar experiências, como o isolamento do racismo, mas também é um espaço propositivo”, explica. E ressalta uma especificidade: “Como abordar o horror enquanto gênero para uma população que vive situações horrendas e assustadoras há séculos?”

Recentemente, o horror negro ganhou destaque com “Corra!”, que rendeu o Oscar de Melhor Roteiro original para o mesmo diretor de “Nós”. “A importância de Peele é incomensurável”, comenta Augusto. “O lastro que ‘Corra!’ criou na indústria e também no público permitiu que essa conversa sobre horror negro ou pessoas negras dentro desse gênero fosse reestabelecida”. O longa também é exibido na mostra, assim como o recente “Nós”. “Me alegra ver o que o cineasta buscou nesse filme: retirar o branco de campo e pensar o duplo sentido implicado em US (United States & Nós, pretos americanos).”

Dentre os destaques da mostra, está o documentário “Horror Noire: a História do Horror Negro”, de Xavier Burgin. Inspirado no livro de Coleman, a obra traça um panorama histórico da representação negra do cinema. “O filme representa uma contribuição importante na organização de uma história e de uma tradição, tal como ‘Dykes, Camera, Action’ o faz em relação à visibilidade lésbica”, explica o crítico. “Claro que, justamente por ter de organizar uma história não abordada pelo cinema até então, o documentário tem de adotar sínteses reducionistas – o segmento sobre o Blaxploitation [movimento cinematográfico dos anos 70 realizado e interpretado por atores negros] é tremendamente complexo –, mas não é pouco o mérito de apresentar uma ampla gama de artistas.”

Clássicos como “Candyman”, de Bernard Rose; e “A Noite dos Mortos-Vivos”, de George A. Romero, também integram a programação.

Por Gabriel Fabri

Confira a programação completa no site do CCSP